quarta-feira, 2 de maio de 2012

Um voo pela Capadócia

Wagner, eu, Eduardo e Maria preparando para voar sobre a Capadócia

Pois bem, quando eu achava que a Turquia não tinha nada mais para nos apresentar, surge a Capadócia. Aquelas formações rochosas que parecem castelos de fadas ou até mesmo imensos falos (escolha a opção que lhe convier) são impactantes. Ao chegarmos à região, formada por vários pequenos lugarejos, como Ürgür, Avanos, Göreme e Uçhisar (onde nos hospedamos), vem a nítida impressão de estarmos em um local único no mundo. É totalmente diferente de tudo que eu já havia visto. O hotel em que nos hospedamos (Wagner, meu companheiro de viagem, e eu), ficamos embevecidos com aquela mistura de montanha, casas, mosteiros e capelas que foram escavados nas rochas. O hotel também está incrustado na pedra, o que lhe confere um charme todo especial (vou comentar a respeito dos hotéis em outra postagem).

Chegamos ao final da tarde, a tempo de entregarmos o carro para a locadora. Do lado do hotel, fica o “castelo” de Uçhisar, uma imensa rocha que, ao ser escavada, transformou-se em um prédio de vários andares e inúmeras salas e quartos. É impressionante! Trata-se de uma rocha bastante porosa que, ao contato com a água, torna-se facilmente moldável. Essas formações são fruto de explosões vulcânicas, há 30 milhões de anos. Com o tempo e a ação da água, houve desgastes e erosões que criaram cavidades de tamanhos e formatos diferentes.

Além de prédios, como o castelo, e dos hotéis, que também têm partes escavadas nas rochas, é possível observar vários outros edifícios, casas ou cidades subterrâneas. Até os anos 1950, milhares de pessoas moravam nesses locais, até que o governo tornou aquela área patrimônio da Turquia e transferiu os moradores para áreas residenciais. Atualmente, os parques e sítios históricos têm a chancela da Unesco como patrimônios da humanidade. Boa parte é utilizada para o turismo, a principal fonte de renda da região.

           Depois de uma noite de sono, acordamos de madrugada para o famoso passeio de balão. É preciso reservar com muita antecedência e o preço gira em torno de 175 dólares por pessoa. É uma experiência inacreditável. Primeiramente, pelo profissionalismo com que as equipes conduzem esse meio de transporte. Segundo, pela sensação de segurança e estabilidade. Por fim, pela paisagem que nos é oferecida logo que o sol nasce, deixando-nos perplexos com tanta beleza. No dia em que voamos, havia 80 balões no céu. Cada balão carrega de 12 a 24 pessoas. No verão, o número chega a 300! A gente não sabe o que é mais bonito: a natureza que se exibe lá em baixo, cheia de contornos e protuberâncias; ou o colorido dos balões que lotam o céu de magia. E, como se não bastasse, no final nos é oferecido um delicioso champagne para comemorar a manhã. No nosso balão, conhecemos um simpático casal carioca, Maria e Eduardo. Ela comemorava seu aniversário e a gravidez de seu primeiro filho. Ele, que a princípio estava apavorado com o fato de voar em um balão, no final estava relaxado e feliz. O grupo ainda contava com uma senhora de 87 anos, que comemorava de forma esplêndida a alegria de estar viva neste planeta tão exuberante.

             Antes de 9h, já estávamos de volta ao hotel para o café. Logo depois, a agência de turismo que contratamos nos levou para conhecer alguns dos lugares mais incríveis dessa região. O nosso guia era Hayru, nome que se aproximava do brasileiro Jairo. Ele falava português e tinha um notável currículo como professor universitário. Hayru nos ofereceu uma aula de história e geografia. Falou também de geologia. Contou-nos sobre as três cores que enfeitavam as rochas da Capadócia: o vermelho, o branco e o amarelo. Falou sobre o rio Vermelho, que banha a região, e é o mais longo da Turquia. Falou de povos desde a antiguidade até os dias atuais.

             Relatou que a Turquia foi o berço de várias religiões e, na Capadócia, foram parar vários cristãos fugidos da perseguição do Império Romano. Entre eles, São Jorge e São Paulo, que nasceu em Tarsus, sul da Turquia. E vieram os cruzados, os exércitos, as guerras, a luta pela sobrevivência, a fabricação do vinho, das belas cerâmicas, dos tapetes e damasco. Um local que traduz a trajetória dos povos que formaram a Turquia atual, em especial a região da Anatólia, como é chamado o lado asiático do país.
 Visitamos o museu aberto de Göreme, com belíssimas igrejas escavadas na rocha e decoradas por afrescos que foram criados a partir do século X. Depois, fomos ao Vale de Deurent, onde vimos de perto as torres das fadas. Passamos, ainda, por uma olaria, onde de produzem artesanalmente alguns das cerâmicas mais sofisticadas do mundo.
Encerrando o primeiro dia na Capadócia, ainda assistimos a uma apresentação dos famosos dervixes rodopiantes. Ao invés de um espetáculo artístico tradicional, assistimos a uma cerimônia cheia de significados e intenções religiosas. A dança foi criada por Mevlana (1207-1273), em um mosteiro de Konya, para que o ser humano pudesse se libertar das amarras e desejos que o ligam à terra, libertando-se da matéria, para alcançar a eternidade. Lembrei-me da minha querida amiga e instrutora de ioga Simone Rigueira Monteiro que, acredito,  adoraria compartilhar conosco desses momentos emocionantes. Infelizmente, não pudemos fotografar a apresentação. Mas entendemos que essa proibição é fundamentada na manutenção do silêncio e da concentração dos participantes. Para ilustrar a dança, inseri nesta postagem uma foto de uma apresentação realizada em Istambul, assistida e registrada pelo Wagner.
Para finalizar este texto, gostaria de transmitir, aqui, os sete conselhos de Mevlana, para facilitar o caminho para o desenvolvimento espiritual:
1)                  Sê como o rio em generosidade e ajuda

2)                 Sê como o sol em ternura e misericórdia

            3)                 Sê como a noite, cobrindo os defeitos dos outros

4)                 Sê como morto na sua cólera e irritabilidade

            5)                 Sê como a terra em humildade e modéstia

6)                 Sê como o mar em tolerância

7)                 Sê visto como sois ou como sê como sois visto.

          Que os preceitos de Mevlana nos ajudem a buscar sempre a paz, o caminho da harmonia, do entendimento e da superação das dificuldades que a vida, às vezes, nos impõem.
 Namastê! Sho-Ku-Rei!

Capadócia: um dos lugares mais impressionantes do mundo

Hotel Kale Konak, na Capadócia
O Castelo de Uçhisar
Paisagem da Capadócia



Balão na Capadócia: segurança e profissionalismo 
Voo de balão
Interior de igreja em Göreme
Göreme: uma cidade inteira escavada na rocha

Detalhe de residência e pombal escavados na rocha 
Wagner e o nosso guia Hayru: aula de história

Wagner brinca de fazer cerâmica na olaria da Capadócia

Detalhe de cerâmica turca

Outro prato de cerâmica turca

Sofisticada pintura na cerâmica

No Vale de Deurent: formações espetaculares
Vale de Deurent

Mevlana

Dervixes rodipiantes (apresentação em Istambul)



4 comentários:

  1. Thelmo, parabéns pelo blog! Está sendo ótimo acompanhá-lo nesta viagem de descobertas. Abraços, Diego

    ResponderExcluir
  2. Agradecido, meu caro. Está sendo um prazer viver as experiências e repassá-las. Abraços

    ResponderExcluir
  3. Boa noite pode me passar o contato do guia? Grara

    ResponderExcluir
    Respostas
    1. Oi Katia, fizemos o passeio pela Agencia Argeus. Havia, na época, uma brasileira, de São Paulo, que foi nosso contato. Veja contato: http://turquiaviagens.com/. Boa viagem!. Continue prestigiando o nosso blog. Abraços

      Excluir

Impressões atuais a respeito de Guarapari

  Em Meaípe, praia da Nova Guarapari (foto de Wagner Cosse editada por Thelmo Lins Clique nas fotos para ampliá-las.                Guarapar...