quarta-feira, 2 de maio de 2012

De carro pela Turquia, em estradas deslumbrantes e paisagens de tirar o fôlego




No maravilhoso Hotel Rixos, em Antalya


Boa parte do roteiro que fizemos pela Turquia (Wagner, meu companheiro de viagem, e eu) foi organizado pela agência turca Argeus, que tem como facilitadora uma simpaticíssima brasileira chamada Cintia. Ela foi uma acertada indicação de nossa amiga, a percussionista Ana Brandão, que também fez o roteiro alguns anos atrás. Achamos essa a melhor opção para viajar por um país com uma língua e costumes tão diferentes dos nossos.
O tour começou em Kusadasi, onde recebemos um carro que alugamos para trafegar pelo país. Viajar de carro pela Turquia é uma experiência fascinante e de extrema liberdade. A princípio, confesso, fiquei temeroso por causa das regras de trânsito, da sinalização e por desconhecer as condições das estradas. Lembrei-me que, uma vez, há alguns anos, tentei sair do Rio de Janeiro de carro para pegar a estrada para Petrópolis. O trânsito confuso e a falta de placas de sinalização me fizeram perder o caminho, me levando para uma perigosa periferia da capital fluminense. Fiquei pensando como isso podia acontecer em uma cidade turística de tamanha importância.
Mas na Turquia é diferente. Pelo menos no trajeto estamos fazendo, não encontramos dificuldade. E olhe que ele é longo: começa em Kusadasi, no mar Egeu, e vai até a Capadócia, no centro do país, percorrendo uma trajetória que seria mais ou menos como ir de Belo Horizonte a Montes Claros, depois passar por Uberaba e Poços de Caldas e, finalmente, voltar para Juiz de Fora. Veja, no mapa abaixo, todo o roteiro que fizemos.
Mesmo sem o auxílio de GPS, que parece não funcionar bem na Turquia, conseguimos realizar o percurso com relativa tranquilidade. O carro ainda tinha equipamento de som, o que nos permitiu ouvir e apreciar os CDs que havíamos adquirido em Istambul, de artistas turcos. Para deixar a situação ainda melhor, as estradas estão em boas condições e boa parte delas é duplicada, favorecendo que o limite de velocidade chegue, em determinadas situações, a 120 km/hora.
O que, diga-se de passagem, é impossível, considerando a beleza da paisagem. Os lugares são paradisíacos. No mesmo local, vemos montanhas, mar, praias, florestas de pinheiros, ruínas de antigas civilizações, mesquitas pontudas no meio de casinhas coloridas, estufas de frutas e hortaliças, numa confusão de cores e estilos, que nos deixam perplexos.
Fethiye, por exemplo, é um sofisticado balneário e um porto de embarque de grandes transatlânticos internacionais, com uma marina onde estão estacionados alguns dos mais suntuosos barcos e iates que eu já vi em vida. Lá fizemos um passeio de barco e conhecemos a famosa praia de Ölü Deniz, considerada uma das mais belas do mundo. Desta cidade para Antalya, uma importante cidade do sul da Turquia, passamos por uma estradinha beira-mar, coalhada de cidadezinhas litorâneas, com paisagens espetaculares. No meio do caminho, uma parada por Myra, onde se podem apreciar os famosos túmulos da civilização lícia, que viveu naquelas paragens centenas de anos atrás.
Antalya foi particularmente uma surpresa para nós. A começar pelo hotel, um deslumbrante cinco estrelas da rede Rixos, com uma arquitetura incrível. Sentimo-nos em Dubai, tamanha a exuberância dos serviços. Para se ter uma ideia, era da marca Bulgari os xampuzinhos, creminhos e sabonetinhos oferecidos nos banheiros dos quartos. Uau, que delícia!
Mas Antalya é mais do que um hotel: tem uma paisagem montanhosa sublime, de onde podemos apreciar um por do sol de tirar o fôlego. E, nas ruas, calçadas e um centro histórico extremamente charmosos,  comprovando que os turcos estão preocupados com o bem estar e a qualidade de vida de sua população e dos seus visitantes. Na parte antiga, ruelas lotadas de restaurantes, cafés e lojinhas encantadores. Havia, inclusive, um sorveteiro bem típico da Turquia, que fez malabarismos para nos fisgar como clientes.
Deixando Antalya, partimos para Konya, uma cidade ao norte, terra natal dos dervixes rodopiantes. Antes, uma parada numa pequena cidade do interior, onde pudemos almoçar outro típico almoço turco, acompanhados por pessoas simpáticas e sempre gentis.
Konya não tem o charme de Antalya, embora tenha tido um passado grandioso, como centro cultural de seljúcidas e hititas (vale uma visita ao Google para pesquisar). Atualmente, é uma cidade moderna com alguns pontos históricos e uma população religiosa. Seu principal atrativo é o mosteiro onde viveu Mevlana, o fundador da seita dos dervixes dançantes. Como eu estava muito cansado (e a parada em Konya não durou mais do que umas oito horas), preferi ficar no hotel, de onde se avistava o complexo arquitetônico, com uma interessante cúpula verde. Wagner foi ao mosteiro e visitou o museu dos dervixes. Infelizmente, eles só se apresentam na segunda quinzena de dezembro, quando realizam seu ritual de fim de ano. Mas há, em todo o país, grupos que realizam o ritual parecido. Na programação, está planejada uma apresentação dos dervixes na Capadócia, de que falarei posteriormente.
A visita ao museu deixou Wagner muito tocado. Ele sentiu a força daquele local, que tem uma energia espiritual muito acentuada, mesmo depois de tantos anos da morte de Mevlana, que aconteceu em 1273. Aproveitou para comprar os CDs com músicas utilizadas no ritual, que ouvimos mais tarde no carro. Ficamos muito emocionados com a música, que é de uma pureza e força descomunais. As mudanças rítmicas, numa mesma faixa, com uma percussão forte e intensa, são arrebatadoras. Bem, planejo fazer uma postagem posterior a respeito da música que ouvi na viagem, para melhor abordar o assunto.
Por falar em música, uma cidade não vive só da sua paisagem ou dos locais turísticos que tem para oferecer. Ela tem, principalmente, o seu povo. Num passeio pelo centro de Konya, deparamo-nos com um prédio muito antigo e bonito, atualmente utilizado como café. Na porta do café, dois rapazes fumavam calmamente o narguilé. Um deles, dono do espaço, ao nos ver fotografar o edifício nos chamou, convidando-nos para um chá por sua conta. Mais um ato de amabilidade e cordialidade dos turcos, que chegamos a nos acostumar, de tão corriqueiro. Dali, ficamos algumas horas, batendo um papo delicioso sobre as diferenças e semelhanças dos nossos povos. Como as pessoas lá amam o Brasil! Logo em seguida, chegaram alguns músicos locais e a conversa acabou se estendendo e se ampliando.
Em um inglês de compreensão difícil, mas de comunicação ampla, a experiência mostrou que nada pode travar ou reduzir aquilo que o ser humano mais quer: o encontro com o outro. Tomar conhecimento de outros mundos, de outras maneiras de enfrentar as situações, de outras formas de sobrevivência no planeta. Tudo às vezes tão diferente e tão parecido no final das contas.
Saímos dali pensando que a música é um dos mais poderosos canais para união dos povos e para a transcendência da humanidade. A música e, é claro, um bom papo. Confesso que dar umas tragadas no narguilê sem nicotina ajudou bastante!

Marina, em frente ao nosso hotel, em Fethiye

Paisagem de Fethyie: mar e montanha em tons de azul

Em Fethyie

Hotel Ece Marina, em Fethyie

Praia de Ölü Deniz

Cidade cheia de estufas para cultivo de frutas e hortaliças

Praia no mar mediterrâneo

Túmulos lícios encravados na rocha, em Myra

No teatro de Myra

Wagner e eu no luxuoso Rixos, em Antalya

Montanhas e praia de Antalya

Paisagem de Antalya, com a torre símbolo da cidade

Entrada do sítio histórico de Antalya

Centro histórico de Antalya

Wagner observa o por do sol em Antalya

Rua do centro histórico, à noite

Wagner e o sorveteiro malabarista

A lua é turca
Cidade turca

Montanhas e pinheiros

Café em Konya: encontro de pessoas

Mosteiro de Mevlana, em Konya

Roteiro de carro pela Turquia (vermelho)




4 comentários:

  1. Thelmo, excelente roteiro, você tem o contato da Cintia da agência Argeus?

    Muito obrigado.

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    1. Oi querido, escreva para cintia@argeus.com.tr.
      Ela tem um compromisso de responder em até 24 horas.
      Grande abraço

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  2. olá
    Estou querendo fazer de Selçuk a Antalya de carro mas percebi, em consultas no GOOGLE MAPS que pequenos percursos levam muito tempo( ex: 187km em 3h13m)...então pergunto...AS ESTRADAS NA TURQUIA SÃO MAIS DIFICEIS?

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    Respostas
    1. Manoel, tive o receio de viajar de carro a princípio, mas foi surpreendentemente tranquilo. As estrada são muito boas e o carro nem tinha GPS!
      Fomos no rumo e consultando mapas. E, é claro, perguntando aos turcos, num misto de inglês e turco... Vale a pena. Pode ir tranquilo.
      Antalya é um lugar maravilhoso. Fiquei lá somente um dia e meio. Se puder ficar pelo menos uns dois dias ou três será perfeito.
      Abraços, Thelmo Lins

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