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Com umas das belas portas de madeira de Zanzibar |
De
volta a Arusha, depois de Ngorongoro, na Tanzânia, uma pausa para almoçar na
companhia de Wagner, o casal espanhol Silvia e Alberto e o paulistano Tímor,
que se despede de nós para seguir para o Brasil. É engraçado o apego e o
carinho que desenvolvemos durante a viagem com esse grupo. Quando Tímor se foi,
ficamos um pouco órfãos. Como ele mora no Brasil, ainda teremos uma nova chance
de ativar nossa amizade. Oxalá.
Depois
das despedidas, prosseguimos, com o casal espanhol, para o aeroporto de Arusha,
que parece uma rodoviária de cidade do interior. A estrutura é muito ruim.
Felizmente, passamos pouco tempo ali antes de embarcarmos para Zanzibar, a penúltima
etapa desse tour pela África.
O voo
entre Arusha e Zanzibar é curto - dura pouco mais de uma hora. No avião, além
de muitos turistas, uma turma grande de pré-adolescentes tanzanianos,
entusiasmados com a brincadeira de voar. Misto de risos nervosos e gritinhos...
A
chegada a Zanzibar foi caótica. Uma horda de carregadores veio ao nosso
encontro, sufocando-nos com pedidos para levar a bagagem. Em certo momento,
achei que cada um iria pegar as malas e levá-las para não sei onde. Para piorar
a situação, o representante local da agência de turismo se equivocou e não
apareceu no aeroporto na hora marcada e ficamos à mercê do que estava
acontecendo. Por fim, tudo se resolveu e pegamos uma van em direção do nosso
hotel, que fica a uma hora do aeroporto.
A
relação do morador com o visitante é uma das principais reflexões que faço
desta viagem. Na maioria das vezes, os primeiros contatos são com vendedores de
serviços e artesanato, que colam insistentemente na gente, tentando a todo
custo que cedamos às suas propostas. Em algumas ocasiões, provocam risos,
noutras acessos de raiva. Insistem, insistem, insistem. Infelizmente, na
maioria das vezes, temos que fazer uma das piores coisas do mundo: simplesmente
ignorá-los, como se não existissem. Caso contrário, vão conseguir nos dobrar.
O
Breezes Beach & Spa Zanzibar é simplesmente deslumbrante como, aliás, a
maioria dos hotéis que ficamos na África. Está localizado à beira mar, a ponto
de aparentar que tem uma praia particular. Toda a estrutura é marcada por uma
decoração exótica, que remete à grande influência árabe presente em toda a ilha
de Zanzibar.
Abro
novo parênteses para comentar que boa parte da estrutura hoteleira da África
está voltada para o turismo internacional. Em algumas exceções, como Addis
Ababa e Nairóbi, vemos também o turismo de negócios. Nos parques, soubemos que
os indianos são proprietários de boa parte da rede hoteleira. Não há, ainda,
hotéis ou pousadas mais baratos, porque na África é tudo ou nada. Se não nos
hospedarmos nessas estruturas maravilhosas, a outra opção os hotéis mais
fuleiros, que nem sempre têm água corrente, ou campings, nos quais ficamos mais
sujeitos às picadas dos insetos. Ou seja, a hotelaria é quase sempre soberba e
luxuosa.
No
avião, pudemos assistir a uma entrevista com um milionário africano, que não me
recordo o nome, em que ele dizia que o maior problema da África era a pequena classe
média. O continente era formado por pessoas muito ricas, que detêm o poder, e
um grande contingente de miseráveis. Assim, também vemos poucos africanos
negros nos hotéis em que nos hospedamos. A maioria era europeu branco. Com uma
classe média maior, mais pessoas iriam consumir produtos, viajar, fortalecendo
o turismo e a economia internos e, por conseguinte, obrigando a construção de
hotéis de categoria média (duas ou três estrelas). A realidade está mudando...
ou cambiando, como dizem os espanhóis.
Outro
mito quebrado foi a internet. Até nos locais mais ermos, como o Serengeti, ela
funcionava. Às vezes mais lenta, mas funcionava. Nós ainda ficávamos até
espantados, quando ouvíamos nossos guias conversarem ao celular no meio das manadas
de gnus. Em Belo Horizonte, onde moro, às vezes tenho dificuldades com as
ligações. Claro que a realidade não é geral, mas foi um ponto para se destacar.
Zanzibar
Voltando
a Zanzibar, aproveitamos o primeiro dia no hotel, com tudo que tínhamos
direito: acomodações super confortáveis, praia, piscina, luar, música ao vivo,
drinks deliciosos e uma comida sofisticada. Tudo de alto nível, impressionante.
Entre um programa e outro, pausa para experimentarmos as cervejas locais,
Kilimanjaro e Safari - uma mais leve e a outra mais encorpada. A maré baixa
permitiu que andássemos centenas de metros mar adentro, observando algas e
peixes. As águas são límpidas e mornas e a paisagem lembra muito a do Nordeste
brasileiro.
No
segundo dia, fomos visitar a Stone Town, como é chamado o sítio histórico de
Zanzibar. Combinamos dois passeios - uma visita aos principais monumentos e uma
volta de barco, em seguida, para apreciarmos o por do sol. Zanzibar foi se
revelando aos poucos, mesmo com a correria de se querer conhecer muita coisa em
pouco tempo, Embora as pessoas não gostem de ser fotografadas (a maioria é
muçulmana), os véus e trajes coloridos das mulheres são uma visão de imensa
beleza. É irresistível. Até mesmo as crianças muçulmanas, com seus uniformes
escolares, deslumbram nossos olhos ocidentalizados. A câmera fotográfica deu
uns sinais de cansaço, falhando em alguns momentos. Portanto, o registro foi
apenas o possível e não o ideal.
Os
zanzibarianos se revelam no burburinho do mercado, com as especiarias e todo
tipo de carnes e frutas. Adentramos as ruelas da cidade histórica, cheia de
segredos e revelações. Belíssimas portas entalhadas em madeira e balcões são
características da arquitetura local. Mesmo muito mal conservados, os
monumentos impressionam. Toda essa parte da cidade é tombada pela Unesco como
patrimônio da humanidade.
Outra
atração local é casa de Freddy Mercury, que nasceu em Zanzibar e viveu ali até
os oito anos de idade. O famoso pop star também é homenageado em vários pontos
do local, inclusive no restaurante onde almoçamos.
Antes
do passeio de barco, ainda conhecemos (por fora, porque estava em reforma) a
Casa das Maravilhas, como eles chamam a antiga residência dos sultões em
Zanzibar. De acordo com o guia local, um dos maiores prédios da África no
século 19, mas não conseguir confirmar esta informação.
Em
seguida, fizemos o passeio de barco, que transcorreu tranquilamente na
companhia de Silvia e Alberto. Foi a primeira vez que vi o Oceano Índico e a
beleza do final de tarde foi à altura do paraíso tropical. À bordo, uma pequena
seleção de petiscos e bebidas, inclusive um vinho branco da África do Sul.
No
entanto, os zanzibarianos querem mesmo é que este éden seja para todos e não
somente para os turistas. Há alguns anos, a ilha se uniu politicamente ao
continente para formar o que é hoje a Tanzânia (Tanganica + Zanzibar). Mas os
diferentes costumes e religiões vão distanciando os povos e desenvolvendo o
sentimento de independência. Os zanzibarianos acreditam que podem tocar suas
vidas sem a Tanzânia. Querem recuperar, na versão do século 21, o importante
entreposto entre as Américas, a Europa e a Índia. Com as bênçãos do turismo, é
claro. Tomara que consigam, pois merecem uma vida melhor, com menos
dificuldades.
A
despedida de Zanzibar foi embalada pelo abraço carinhoso do casal Silvia e
Alberto. Já estávamos para sair, logo após o café da manhã do terceiro dia,
quando eles nos surpreenderam. Trocamos endereços eletrônicos, para manter
nossa amizade ativada e prometemos, quem sabe, no futuro, fazermos viagens
juntos.
Antes
de voltarmos ao Brasil, pernoitamos em Johannesburgo, na África do Sul, no
hotel Emperor, que faz parte de um complexo de cassinos, lojas e restaurantes.
Um empreendimento de tirar o fôlego. Tudo é fake. Há uma enorme praça de
alimentação com um teto falso, onde o céu azul é constante. Estátua de Davi,
prédios que imitam as construções greco-latinas nos fazem acreditar que estamos
na Grécia ou na Itália. Às vezes, até mesmo no Egito. Jantamos em um
restaurante sul africano, com uma comida ótima, um pouquinho apimentada.
Depois, rumo ao quarto, para descansarmos, pois teríamos que viajar no dia
seguinte bem cedo.
Fim da
viagem
Bem, a
viagem à África chega ao fim, depois de 24 dias. Foram tão intensos, que
parecem meses. Foram dias de profundas mudanças de conceitos. A África se
revela a cada olhar e eu fui apenas uma esponja para todas essas emoções.
Fizemos
novos amigos, visitamos lugares maravilhosos e conhecemos um novo e vibrante
continente. Na África, também, completei meus 50 anos de idade, com todas as
reflexões que a data pode gerar.
E ficou
aquela vontade de mergulhar no dia a dia de novos povos e dividir as sensações
com os leitores e amigos.
Nada do
que podemos ler ou assistir naqueles deslumbrantes documentários da Discovery,
National Geografic ou BBC podem revelar o que acontece ali realmente. A vida
animal, com sua pulsação fervorosa, o povo com suas riquíssimas tradições
culturais, o burburinho dos mercados – tudo é festa para os olhares, alimento
para o espírito.
Os
problemas estão lá, para serem resolvidos. No aeroporto de Guarulhos,
encontramos com uma companheira de viagem paraibana, que voltava de Moçambique,
onde teria participado de um congresso para resolver as questões hídricas que
tanto incomodam o continente. Há escassez de água. Há políticos corruptos
tentando desviar os recursos. Há uma população miserável que não sabe nem a
quem recorrer. Há muitas doenças endêmicas. Mas também existem pessoas que
querem modificar esta realidade e mostrar ao mundo uma nova África, que pode
ser, quem sabe, o esteio de um novo tempo para a humanidade. Foi dali que
surgiu a primeira manifestação humana e, quem sabe, dali que sairão as soluções
para a preservação da humanidade.
Até a
próxima!
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Hotel Breezes, em Zanzibar |
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Silvia e Alberto namoram vendo a lua cheia |
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Zanzibar |
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Curtindo a piscina do hotel |
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Ainda no hotel |
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Hotel Breezes, em Zanzibar |
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Centro Cultural da Stone Town |
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Detalhe da arquitetura histórica de Zanzibar |
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Balcões |
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Porta entalhada |
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Tampa do bueiro |
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Venda de burcas ao ar livre |
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Comércio local |
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Comércio |
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Venda da pães na praça principal |
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Mercado |
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Mercado |
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Mercado |
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Mercado |
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Especiarias |
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Mercado |
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Especiarias |
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Tecidos para cangas |
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Na igreja protestante |
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Monumento aos escravos |
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Torre de mesquita |
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Tela inspirada em Zanzibar |
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Tela inspirada nos masai |
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Prédio com inscrições árabes |
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Stone Town |
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Ruela de Zanzibar |
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Estudantes zanzibarianas fogem do fotógrafo |
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Papo na esquina |
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Igreja de Zanzibar |
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Loja |
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Wagner e uma porta entalhada na madeira |
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Stone Town |
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Casa de Freddy Mercury |
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Casa das Maravilhas (torre) e fortaleza dos portugueses |
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Fortaleza dos portugueses, que chegaram a Zanzibar no século 17 |
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Casa das Maravilhas |
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Porta |
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Fim de tarde em Zanzibar |
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Oceano Índico |
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Oceano Índico |
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Alberto (máquina) e Wagner no por de sol em Zanzibar |
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Silvia |
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Wagner diverte-se nas águas mornas do Índico |
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Por de sol |
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Bar à beira mar |
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Barraca com alimentos locais |
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Barraca de frutas |
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Garota zanzibariana |
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Dala dala, o transporte público da ilha |
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Na praça fake de Johannesburgo |
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Complexo Emperor, em Johanesburgo |
Que show Thelmo!!! O lugar deslumbrante e seu olhar como fotógrafo, cada dia mais apurado! E através de suas viagens conhecemos um pouco das belezas de nosso mundo. Bjos! Elza Góis
ResponderExcluirTelmo, adorei a narrativa e fotos da viagem à Etiópia. Pretendo ir pra lá em setembro, tens alguma indicação de agência de viagem com bom roteiros pra Etiópia? Agradeço se puderes me dar esta dica (tehaase@ymail.com)
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