sábado, 1 de junho de 2013

No paraíso tropical de Zanzibar

Com umas das belas portas de madeira de Zanzibar


De volta a Arusha, depois de Ngorongoro, na Tanzânia, uma pausa para almoçar na companhia de Wagner, o casal espanhol Silvia e Alberto e o paulistano Tímor, que se despede de nós para seguir para o Brasil. É engraçado o apego e o carinho que desenvolvemos durante a viagem com esse grupo. Quando Tímor se foi, ficamos um pouco órfãos. Como ele mora no Brasil, ainda teremos uma nova chance de ativar nossa amizade. Oxalá.
Depois das despedidas, prosseguimos, com o casal espanhol, para o aeroporto de Arusha, que parece uma rodoviária de cidade do interior. A estrutura é muito ruim. Felizmente, passamos pouco tempo ali antes de embarcarmos para Zanzibar, a penúltima etapa desse tour pela África.
O voo entre Arusha e Zanzibar é curto - dura pouco mais de uma hora. No avião, além de muitos turistas, uma turma grande de pré-adolescentes tanzanianos, entusiasmados com a brincadeira de voar. Misto de risos nervosos e gritinhos...
A chegada a Zanzibar foi caótica. Uma horda de carregadores veio ao nosso encontro, sufocando-nos com pedidos para levar a bagagem. Em certo momento, achei que cada um iria pegar as malas e levá-las para não sei onde. Para piorar a situação, o representante local da agência de turismo se equivocou e não apareceu no aeroporto na hora marcada e ficamos à mercê do que estava acontecendo. Por fim, tudo se resolveu e pegamos uma van em direção do nosso hotel, que fica a uma hora do aeroporto.
A relação do morador com o visitante é uma das principais reflexões que faço desta viagem. Na maioria das vezes, os primeiros contatos são com vendedores de serviços e artesanato, que colam insistentemente na gente, tentando a todo custo que cedamos às suas propostas. Em algumas ocasiões, provocam risos, noutras acessos de raiva. Insistem, insistem, insistem. Infelizmente, na maioria das vezes, temos que fazer uma das piores coisas do mundo: simplesmente ignorá-los, como se não existissem. Caso contrário, vão conseguir nos dobrar.
O Breezes Beach & Spa Zanzibar é simplesmente deslumbrante como, aliás, a maioria dos hotéis que ficamos na África. Está localizado à beira mar, a ponto de aparentar que tem uma praia particular. Toda a estrutura é marcada por uma decoração exótica, que remete à grande influência árabe presente em toda a ilha de Zanzibar.
Abro novo parênteses para comentar que boa parte da estrutura hoteleira da África está voltada para o turismo internacional. Em algumas exceções, como Addis Ababa e Nairóbi, vemos também o turismo de negócios. Nos parques, soubemos que os indianos são proprietários de boa parte da rede hoteleira. Não há, ainda, hotéis ou pousadas mais baratos, porque na África é tudo ou nada. Se não nos hospedarmos nessas estruturas maravilhosas, a outra opção os hotéis mais fuleiros, que nem sempre têm água corrente, ou campings, nos quais ficamos mais sujeitos às picadas dos insetos. Ou seja, a hotelaria é quase sempre soberba e luxuosa.
No avião, pudemos assistir a uma entrevista com um milionário africano, que não me recordo o nome, em que ele dizia que o maior problema da África era a pequena classe média. O continente era formado por pessoas muito ricas, que detêm o poder, e um grande contingente de miseráveis. Assim, também vemos poucos africanos negros nos hotéis em que nos hospedamos. A maioria era europeu branco. Com uma classe média maior, mais pessoas iriam consumir produtos, viajar, fortalecendo o turismo e a economia internos e, por conseguinte, obrigando a construção de hotéis de categoria média (duas ou três estrelas). A realidade está mudando... ou cambiando, como dizem os espanhóis.
Outro mito quebrado foi a internet. Até nos locais mais ermos, como o Serengeti, ela funcionava. Às vezes mais lenta, mas funcionava. Nós ainda ficávamos até espantados, quando ouvíamos nossos guias conversarem ao celular no meio das manadas de gnus. Em Belo Horizonte, onde moro, às vezes tenho dificuldades com as ligações. Claro que a realidade não é geral, mas foi um ponto para se destacar.

Zanzibar
Voltando a Zanzibar, aproveitamos o primeiro dia no hotel, com tudo que tínhamos direito: acomodações super confortáveis, praia, piscina, luar, música ao vivo, drinks deliciosos e uma comida sofisticada. Tudo de alto nível, impressionante. Entre um programa e outro, pausa para experimentarmos as cervejas locais, Kilimanjaro e Safari - uma mais leve e a outra mais encorpada. A maré baixa permitiu que andássemos centenas de metros mar adentro, observando algas e peixes. As águas são límpidas e mornas e a paisagem lembra muito a do Nordeste brasileiro.
No segundo dia, fomos visitar a Stone Town, como é chamado o sítio histórico de Zanzibar. Combinamos dois passeios - uma visita aos principais monumentos e uma volta de barco, em seguida, para apreciarmos o por do sol. Zanzibar foi se revelando aos poucos, mesmo com a correria de se querer conhecer muita coisa em pouco tempo, Embora as pessoas não gostem de ser fotografadas (a maioria é muçulmana), os véus e trajes coloridos das mulheres são uma visão de imensa beleza. É irresistível. Até mesmo as crianças muçulmanas, com seus uniformes escolares, deslumbram nossos olhos ocidentalizados. A câmera fotográfica deu uns sinais de cansaço, falhando em alguns momentos. Portanto, o registro foi apenas o possível e não o ideal.
Os zanzibarianos se revelam no burburinho do mercado, com as especiarias e todo tipo de carnes e frutas. Adentramos as ruelas da cidade histórica, cheia de segredos e revelações. Belíssimas portas entalhadas em madeira e balcões são características da arquitetura local. Mesmo muito mal conservados, os monumentos impressionam. Toda essa parte da cidade é tombada pela Unesco como patrimônio da humanidade.
Outra atração local é casa de Freddy Mercury, que nasceu em Zanzibar e viveu ali até os oito anos de idade. O famoso pop star também é homenageado em vários pontos do local, inclusive no restaurante onde almoçamos.
Antes do passeio de barco, ainda conhecemos (por fora, porque estava em reforma) a Casa das Maravilhas, como eles chamam a antiga residência dos sultões em Zanzibar. De acordo com o guia local, um dos maiores prédios da África no século 19, mas não conseguir confirmar esta informação.
Em seguida, fizemos o passeio de barco, que transcorreu tranquilamente na companhia de Silvia e Alberto. Foi a primeira vez que vi o Oceano Índico e a beleza do final de tarde foi à altura do paraíso tropical. À bordo, uma pequena seleção de petiscos e bebidas, inclusive um vinho branco da África do Sul.
No entanto, os zanzibarianos querem mesmo é que este éden seja para todos e não somente para os turistas. Há alguns anos, a ilha se uniu politicamente ao continente para formar o que é hoje a Tanzânia (Tanganica + Zanzibar). Mas os diferentes costumes e religiões vão distanciando os povos e desenvolvendo o sentimento de independência. Os zanzibarianos acreditam que podem tocar suas vidas sem a Tanzânia. Querem recuperar, na versão do século 21, o importante entreposto entre as Américas, a Europa e a Índia. Com as bênçãos do turismo, é claro. Tomara que consigam, pois merecem uma vida melhor, com menos dificuldades.

A despedida de Zanzibar foi embalada pelo abraço carinhoso do casal Silvia e Alberto. Já estávamos para sair, logo após o café da manhã do terceiro dia, quando eles nos surpreenderam. Trocamos endereços eletrônicos, para manter nossa amizade ativada e prometemos, quem sabe, no futuro, fazermos viagens juntos.
Antes de voltarmos ao Brasil, pernoitamos em Johannesburgo, na África do Sul, no hotel Emperor, que faz parte de um complexo de cassinos, lojas e restaurantes. Um empreendimento de tirar o fôlego. Tudo é fake. Há uma enorme praça de alimentação com um teto falso, onde o céu azul é constante. Estátua de Davi, prédios que imitam as construções greco-latinas nos fazem acreditar que estamos na Grécia ou na Itália. Às vezes, até mesmo no Egito. Jantamos em um restaurante sul africano, com uma comida ótima, um pouquinho apimentada. Depois, rumo ao quarto, para descansarmos, pois teríamos que viajar no dia seguinte bem cedo.

Fim da viagem
Bem, a viagem à África chega ao fim, depois de 24 dias. Foram tão intensos, que parecem meses. Foram dias de profundas mudanças de conceitos. A África se revela a cada olhar e eu fui apenas uma esponja para todas essas emoções.
Fizemos novos amigos, visitamos lugares maravilhosos e conhecemos um novo e vibrante continente. Na África, também, completei meus 50 anos de idade, com todas as reflexões que a data pode gerar.
E ficou aquela vontade de mergulhar no dia a dia de novos povos e dividir as sensações com os leitores e amigos.
Nada do que podemos ler ou assistir naqueles deslumbrantes documentários da Discovery, National Geografic ou BBC podem revelar o que acontece ali realmente. A vida animal, com sua pulsação fervorosa, o povo com suas riquíssimas tradições culturais, o burburinho dos mercados – tudo é festa para os olhares, alimento para o espírito.
Os problemas estão lá, para serem resolvidos. No aeroporto de Guarulhos, encontramos com uma companheira de viagem paraibana, que voltava de Moçambique, onde teria participado de um congresso para resolver as questões hídricas que tanto incomodam o continente. Há escassez de água. Há políticos corruptos tentando desviar os recursos. Há uma população miserável que não sabe nem a quem recorrer. Há muitas doenças endêmicas. Mas também existem pessoas que querem modificar esta realidade e mostrar ao mundo uma nova África, que pode ser, quem sabe, o esteio de um novo tempo para a humanidade. Foi dali que surgiu a primeira manifestação humana e, quem sabe, dali que sairão as soluções para a preservação da humanidade.


Até a próxima!

Hotel Breezes, em Zanzibar

Silvia e Alberto namoram vendo a lua cheia

Zanzibar

Curtindo a piscina do hotel

Ainda no hotel

Hotel Breezes, em Zanzibar

Centro Cultural da Stone Town

Detalhe da arquitetura histórica de Zanzibar

Balcões

Porta entalhada



Tampa do bueiro

Venda de burcas ao ar livre



Comércio local

Comércio

Venda da pães na praça principal

Mercado

Mercado

Mercado

Mercado

Especiarias

Mercado

Especiarias

Tecidos para cangas





Na igreja protestante

Monumento aos escravos

Torre de mesquita

Tela inspirada em Zanzibar

Tela inspirada nos masai

Prédio com inscrições árabes

Stone Town

Ruela de Zanzibar

Estudantes zanzibarianas fogem do fotógrafo

Papo na esquina

Igreja de Zanzibar

Loja

Wagner e uma porta entalhada na madeira

Stone Town

Casa de Freddy Mercury

Casa das Maravilhas (torre) e fortaleza dos portugueses

Fortaleza dos portugueses, que chegaram a Zanzibar no século 17

Casa das Maravilhas

Porta

Fim de tarde em Zanzibar

Oceano Índico

Oceano Índico

Alberto (máquina) e Wagner no por de sol em Zanzibar

Silvia

Wagner diverte-se nas águas mornas do Índico

Por de sol

Bar à beira mar

Barraca com alimentos locais

Barraca de frutas

Garota zanzibariana

Dala dala, o transporte público da ilha

Na praça fake de Johannesburgo

Complexo Emperor, em Johanesburgo



2 comentários:

  1. Que show Thelmo!!! O lugar deslumbrante e seu olhar como fotógrafo, cada dia mais apurado! E através de suas viagens conhecemos um pouco das belezas de nosso mundo. Bjos! Elza Góis

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  2. Telmo, adorei a narrativa e fotos da viagem à Etiópia. Pretendo ir pra lá em setembro, tens alguma indicação de agência de viagem com bom roteiros pra Etiópia? Agradeço se puderes me dar esta dica (tehaase@ymail.com)

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