terça-feira, 5 de novembro de 2013

No centro histórico de Vitória, capital do Espírito Santo

Na frente do Palácio Anchieta, em Vitória (ES)

 Estive em Vitória, capital do Espírito Santo, no início de novembro de 2013, para a gravação de um comercial. Mas, antes do compromisso profissional, tive uma tarde livre e aproveitei para visitar o centro histórico da cidade, que eu não conhecia.
Hospedei-me na Praia de Camburi, de onde tomei um lotação para o local. Era feriado e, por isso, os ônibus eram poucos e raros. Mas, o transporte público me deixou na área central, onde se concentram os principais edifícios que marcaram a história da fundação de Vitória, nos idos de 1.537.
Recebi, no hotel, uma série de folhetos bastante esclarecedores sobre os principais atrativos, que me guiaram. Devido ao tempo escasso, escolhi alguns dos mais importantes e que estavam abertos no dia.
Comecei o circuito pelo Palácio Anchieta, sede do governo estadual. O belo edifício, que já foi um convento e uma igreja, ganhou seu atual aspecto no início do século 20. A arquitetura neoclássica, com inspiração francesa, confere ao prédio um aspecto imponente. Belas escadarias e uma profusão de portas, janelas e varandas completam a cena.
Nos fins de semana ou feriados, quando o governador não está despachando, o local é aberto ao público, com visitas guiadas. Foi criada, ainda, uma galeria de arte. Para minha surpresa, a galeria recebia a exposição de obras de Cândido Portinari, da Coleção Castro Maya. Ao lado de desenhos e esboços, havia óleos importantes do artista, como “O menino com pião” (1947), “O menino com carneiro” (1953) e a série de desenhos sobre Dom Quixote, que ilustrou um famoso poema de Carlos Drummond de Andrade.
Ainda encantado com as obras, inscrevi-me para fazer a visita guiada à parte antiga do palácio. Fiz o circuito acompanhado por um grupo de estudantes de Arquitetura de Linhares, interior do Espírito Santo. Com uma guia bem informada, e funcionários extramente simpáticos e atenciosos, percorremos os salões mobiliados com requinte e sobriedade. Chamou-me a atenção um belo relógio de mesa, de procedência multinacional, uma vez que contou com o laborioso trabalho de artistas de vários países europeus. A visita durou aproximadamente 40 minutos.

Do lado de fora do Palácio Anchieta, podem também ser observados alguns casarões da Belle Epoque, que dividem o espaço com horríveis prédios dos anos 1970/80.  É impressionante o mau gosto dos arquitetos e engenheiros quando resolvem fazer essas obras, sem qualquer respeito ao contexto histórico. Como parte do centro de Vitória está degradado, muitos desses edifícios, além de feios, estão abandonados, cheios de pichações e sujeira.
No entanto, sobrevivem ali prédios deslumbrantes, como o edifício Domingos Martins, que está sendo restaurado para abrigar a sede da Filarmônica do Espírito Santo. Logo ali perto, está a Catedral Metropolitana de Vitória, com sua arquitetura neogótica. Edificada a partir dos anos 20 do século passado, ela substituiu a antiga matriz construída na época da fundação da cidade. Mesmo se considerarmos o pecado mortal de ter sido levantada nos escombros do antigo patrimônio, a catedral é um edifício charmoso. Chamam a atenção os belos vitrais projetados por Alexandre e Gastão Formenti nos anos 1950. Recentemente, a igreja ganhou três novos vitrais, em tons azulados, também muito bonitos. Não consegui identificar o autor ou autores.
Ainda me restavam algumas horas antes do sol se por, quando percorri algumas ladeiras e ruelas da Vitória antiga, algumas delas com calçadões e praças, onde o povo senta-se em mesinhas para beber, conversar e ouvir música. Rolava solto um sambão em um desses locais. Parei numa padaria para fazer um lanche. Infelizmente, nessa área local não existem aqueles charmosos cafés que gostaríamos de encontrar para sentar e observar as coisas do local. Na padaria, além de alguns deliciosos doces e quitutes, vi fotos antigas de Vitória estampadas no balcão. Comparei com os locais por onde havia passado e constatei a grande perda que a cidade sofreu nos últimos anos, perdendo sua memória para o progresso vazio. No mesmo local da roda de samba, podiam ser observados vários cafés, com homens de terno e chapéu e mulheres elegantes. Soube que o centro da cidade sofreu muito com o desenvolvimento da parte mais moderna da cidade, principalmente com a instalação dos shoppings. A população e, principalmente, o comércio migrou para os novos bairros. Com isso, a situação ficou mais alarmante, com a chegada de muitos mendigos.
            Um projeto de 2006, criado pela prefeitura, está tentando melhorar o aspecto do circuito histórico, com a restauração de edifícios e praças. Pude constatar que, pelo menos, há segurança e muitas obras bem sucedidas, como o antigo Cine Solar, que hoje abriga uma unidade do SESC, os prédios do Museu de Arte do Espírito Santo e a Escola de Teatro e Dança FAFI. Em quase todos os locais fui muito bem recepcionado, ates
tando que há preocupação de imprimir uma boa imagem para o turista ou visitante.
            Realizei também um antigo sonho de conhecer o Teatro Carlos Gomes, o mais antigo de Vitória ainda em funcionamento. Ele foi construído pelo arquiteto autodidata e construtor André Carloni e inaugurado em 1927, após o incêndio que destruiu o Teatro Melpômene, então o mais importante da cidade. Inspirado no Scalla de Milão, o espaço foi propriedade particular por um tempo, até ser adquirido pelo governo estadual. Depois de muitos anos sem qualquer reforma, ganhou recentemente uma restauração que melhorou consideravelmente seu aspecto. Embora imponente, tem pouco mais de 400 lugares.
            Muitos monumentos ficaram de fora de visita, por falta de tempo. Queria conhecer o Parque Moscoso, o Convento São Francisco e a Capela de Santa Luzia (a mais antiga da cidade), entre outros. Fui rapidamente aos antigos armazéns do Porto de Vitória, que atualmente abrigam eventos culturais. Flagrei algumas ações do Festival de Cinema, que completou 20 anos neste ano. Não pude ver nenhum filme, por causa do horário, mas visitei uma lojinha de roupas e artigos de decoração da designer Gabi King. A própria figura da estilista já é uma aventura fashion, mas suas criações me impressionaram pela linguagem pop e contemporânea, sem perder o foco na cor e na vontade de criar algo que traduza a cena capixaba. Visite sua página no Facebook para conferir e dar sua opinião (facebook.com/gabikingdesigner).
            O fim de tarde estava lindo, depois de um dia meio chuvoso – afinal era o feriado de Finados. Desci do lotação alguns quarteirões antes do hotel para andar no calçadão e apreciar a boa qualidade vida dos moradores da capital do Espírito Santo. A cidade respira novos ares, que prenunciam muito progresso e desenvolvimento, mas também relembram o passado, no intuito de conservar e melhorar aquilo que os seus antepassados deixaram como herança.

Palácio Anchieta





Arredores do palácio

Futura sede da Filarmônica do ES


Casario da praça do palácio


Exposição de obras de Portinari

O menino com carneiro


O menino com pião



Da série Dom Quixote

Flores

Interior do Palácio Anchieta

Salão Verde

Sala de jantar

Sala de visitas


O relógio multinacional

Catedral de Vitória








Imóveis históricos


Escadaria Maria Ortiz

Detalhe da fachada do Museu de Arte


Escola FAFI

Detalhe da Igreja do Rosário

SESC Cine Glória




Teatro Carlos Gomes

Fachada

Interior do teatro

Hall de entrada

Detalhe da fachada

Praia de Camburi







Um comentário:

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