quinta-feira, 26 de abril de 2018

DICA DA SEMANA – A deslumbrante capital húngara

Apreciando uma das belas esculturas que estão nas praças de Budapeste (foto de Wagner Cosse)

Fotos de Thelmo Lins e Wagner Cosse
Clique nas fotos para ampliá-las



Nesta postagem, vamos visitar Budapeste, capital de Hungria. Eu estive lá em 2010, por sugestão do cantor e produtor cultural Wagner Cosse, que fez a viagem comigo. Até então, nunca tinha lido nada a respeito da cidade e achava que ela deveria ser uma das vetustas capitais do bloco oriental, com aquela cara cinzenta que parecia ter as antigas repúblicas soviéticas. Ledo engano. 
            Budapeste é uma cidade de aproximadamente dois milhões de habitantes e traz alguns dos traços marcantes do antigo Império Austríaco, a partir do século 17. Mas sua formação é bem anterior a isso. Remonta ao século 9, quando os magiares, cavaleiros oriundos das margens do Rio Volga, dominaram a região. Mas a cidade também foi dominada, em certo período, pelos turcos. E integrou o Império Otomano (séculos 14 a 17). E dele, há muitas influências, em especial os banhos turcos famosos da capital.
            Budapeste é formada por duas cidades: Buda, a mais antiga; e Peste, que começou a se desenvolver a partir do século 19. É possível notar, em sua arquitetura, marcas de todas essas fases, em especial àquela em que a Hungria tornou-se uma nação, em 1867.
            A primeira lembrança que temos ao ver tão belos edifícios é a de Paris, principalmente na Avenida Andrássy e arredores. A mais sensível diferença é o fato (e que fato!) de ser banhada pelo Rio Danúbio.
            Estive lá em março, no início da primavera, quando ainda estava frio e com o tempo nublado. Só tivemos a felicidade de um dia de sol, que acabou sendo arrebatador pelo efeito dos raios dourados sobre a cidade, que ganhou nova vida. Mesmo assim, aproveitamos bem a cidade no que ela tinha de melhor: a área central, com muitos edifícios belos, calçadas monumentais, pontes lindíssimas, jardins floridos e muita história.
            Vale a pena lembrar de alguns pontos mais impressionantes. A começar pelo prédio do Parlamento, um imponente edifício às margens do Danúbio, que é muito comparado com o parlamento inglês. É o maior edifício da cidade. Sua construção teve início em 1885, tendo a inauguração decorrido no 1.000º aniversário do país, em 1896. A conclusão do edifício deu-se a 1904. Como curiosidade, o arquiteto do edifício, Imre Steindl, tornou-se vítima de cegueira antes da sua conclusão e não pode vislumbrar sua obra-prima. O prédio tem 700 salas e gabinetes, numa área de aproximadamente 18 mil m2. É possível fazer uma visita guiada por suas luxuosas dependências. Além do plenário, dos majestosos corredores e das impressionantes esculturas e afrescos que adornam o prédio, o parlamento abriga a Santa Coroa da Hungria ou Coroa de Santo Estêvão e o centro real, símbolos do estado húngaro. A coroa traz uma curiosidade: uma cruz é torta, fruto de um descuido em seu armazenamento. Mesmo assim, nunca foi consertada. Ela pesa cerca de dois quilos e é feita em ouro e pedras preciosas.
            O teatro da Ópera de Budapeste, ou melhor, Ópera Estatal Húngara é a maior casa de espetáculos da Hungria. Ela foi construída de 1875 a 1884, em estilo predominantemente neorrenascentista, que lembra muito a imponência do Parlamento. Quem a criou foi o arquiteto húngaro Miklós Ybl. Seu interior comporta pouco mais de 1.200 espectadores. Atualmente, a ópera recebe mais de 130 apresentações anuais. Tive a oportunidade de assistir ao balé Branca de Neve, com cenários e figurinos encantadores. As mudanças de cena e os efeitos visuais foram incríveis. Confira a programação em www.opera.hu.
            O Mercado Central (1894) é outra parada obrigatória. O prédio em si vale a visita, pois lembra uma imensa estação ferroviária. O segundo andar é repleto de restaurantes típicos e nós aproveitamos a ocasião para uma parada por lá. No primeiro andar, as tradicionais barracas de produtos alimentícios, artesanato e outros itens. O que mais chamou a atenção foi a quantidade de páprica, uma espécie de condimento. Posteriormente, soube que o nome páprica é um derivativo da palavra húngara para pimenta. Ou seja, deve ser um dos alimentos preferidos do povo daquele país.
            Vale a pena visitar a sinagoga da cidade, um belíssimo edifício do século 19. É considerada a maior da Europa. Foi construída nos anos 1854-1859, em estilo romântico, combinando elementos neomouriscos e neobizantinos, pelos arquitetos Lajos Förster e Frigyes Feszl. Dentro ela cabem quase 3.000 pessoas. A Hungria é um dos países que mais abrigaram judeus no continente europeu. Por isso, durante a Segunda Guerra Mundial, aventou-se a possibilidade de transformar a cidade em um grande cemitério. Muitos judeus foram assassinados nessa época e um monumento, do lado de fora da sinagoga, lembra esse triste período. É uma espécie de árvore de metal, criada pelo escultor Imre Varga, cujos frutos são plaquetas com os nomes de vários húngaros que morreram durante o Holocausto.
            O Castelo de Budapeste, ou simplesmente o Palácio Real, é a próxima parada deste tour pela capital húngara. Ele fica às margens do Rio Danúbio, numa colina do lado de Buda. Sua construção arrebata pela imponência. Ele remonta a 1247 e, desde então, vem sofrendo alterações, ampliando e recebendo melhorias. Até o período monárquico, dali se governava o país. É possível fazer uma visita guiada aos seus aposentos, todos muito luxuosos, expressando principalmente a época do Império Austro-húngaro. Vale lembrar que a imperatriz Sissi (famosa pela interpretação de Romy Schneider nos cinemas) nasceu na Hungria. Em 1948, logo após a Segunda Grande Guerra, o conjunto arquitetônico passou por uma restauração completa e ganhou o formato definitivo que conserva até hoje. Em 1987, a Unesco decretou-o Patrimônio da Humanidade, incluindo as margens do Danúbio, o bairro do Castelo de Buda e a avenida Andrássy, do lado de Peste. Lá ainda podem ser apreciadas várias exposições, com ênfase naquela com os mais expressivos artistas daquele país.
            A Catedral de Santo Estêvão é o maior templo católico de Budapeste, com 96 metros de altura e a capacidade para 8.500 fiéis. Sua construção foi concluída em 1905, uma das épocas áureas da cidade, após 54 anos de obras. A fachada principal traz duas torres sendo que, na da direita, está o maior e mais pesado (nove toneladas) sino da Hungria. Inspirada na Igreja de São Pedro, no Vaticano, de sua cúpula pode se ver a mais bela vista panorâmica da cidade. Para isso, é preciso enfrentar mais de 300 degraus.
Outro edifício encantador é o Café Nova York. Vi as fotos e fiquei abismado com a beleza e imponência. Mas, como a grana estava curta, não tive coragem de entrar e pagar os preços extorsivos. Quem sabe, da próxima vez.
Para quem gosta de uma arquitetura mais contemporânea, a capital oferece muitas opções. Dentre elas, conhecemos o Palácio de Artes, criado por Zoboki-Demeter e Arquitetos Associados, em 2005. O edifício tem uma sala de concertos e espaços para apresentações artísticas e exposições. Sua beleza se completa pelo fato de ser localizado às margens do Danúbio. Ao seu redor, está sendo desenvolvido todo um bairro moderno, com praças e esculturas que homenageiam ídolos da cena cultural da cidade.
            No mais, Budapeste é caminhar a pé, curtindo as instigantes estátuas e esculturas que decoram as principais praças e calçadas. Os jardins são muito bem cuidados, apesar do clima inóspito para nós, brasileiros. Se o frio apertar, não esqueça de passar nas termas. Os banhos lembram as nossas estâncias de Araxá, São Lourenço, Caxambu ou Poços de Caldas. Há alas mistas e separadas (masculinas e femininas). Se você não ficar incomodado de se banhar com outros homens nus ao seu lado, divirta-se. Confesso que eu prefiro ir para esses lugares públicos de calção ou sunga.       
            Por incrível que pareça, Wagner e eu arriscamos a um passeio noturno de barco pelo Danúbio. Apesar da baixa temperatura e do vento gelado, cumprimos bravamente o compromisso, deliciando-nos com as paisagens. Com a iluminação noturna, em tons sépia, a cidade fica ainda mais bonita, tanto nas margens do rio quando nas principais avenidas.
            Budapeste é um programa ótimo para, no mínimo, uma semana. Os bondes ou metrô levam a qualquer parte. Embora a língua seja um dificultador, os preços de hospedagem e alimentação são bem mais em conta que Praga ou Paris, por exemplo. Vale a pena colocá-la em seu próximo roteiro.

Dicas de leitura:
Budapeste - 1900 - Um retrato histórico de uma cidade e sua cultura, de John Lukacs, historiador nascido em Budapeste. O livro descreve o apogeu da cidade, a partir de, seus habitantes, a comunidade judaica, a política e seus principais artistas, como Bela Bartók, Kodály, Krudy, Ady, Molnár, Koestler, Szilarde von Neumann. Veja uma resenha detalhada em
Budapeste, de Chico Buarque – O compositor e escritor brasileiro tornou a capital húngara o tema de seu terceiro livro. O enredo é narrado por José Costa, um ghost-writer, especialista em escrever cartas, artigos, discursos ou livros para terceiros, sob a condição de permanecer anônimo. Na volta de um congresso de autores anônimos, Costa é obrigado a fazer uma escala imprevista na cidade título do romance, o que desencadeia uma série de eventos que constituem o centro da trama: casado com a apresentadora de telejornais Vanda, Costa conhece Kriska na Hungria, que o apelida de Zsoze Kósta e com quem aprende húngaro - segundo o narrador, "a única língua do mundo que, segundo as más línguas, o diabo respeita". Entre as diversas idas e vindas entre Budapeste e o Rio de Janeiro, a trama se alterna entre o seu enfeitiçamento pela língua húngara e o seu fascínio em ver seus escritos publicados por outros, bem como o seu envolvimento amoroso com Vanda e Kriska (fonte Wikipedia). Dizem que o compositor nunca esteve na cidade, mas construiu uma cenografia impressionante, bastante verossímil.


Centro de Budapeste


Clima frio e chuvoso de março em Budapeste


Jardins floridos e bem cuidados






Estátua do Pequeno Príncipe às margens do Danúbio

O bonde

 Parlamento

O prédio à beira do Rio Danúbio

O edifício visto do Castelo de Buda


Corredores

Cúpula

A coroa da monarquia húngara, com a cruz torta


Plenário

 Ópera de Budapeste

Fachada


Wagner na plateia do belo teatro



Em um dos camarotes


No hall de entrada do edifício

 Mercado Municipal








A páprica está em todos os lugares (cachos avermelhados no alto da barraca)


Páprica (vermelha)

 Sinagoga






A escultura em metal que homenageia os mortos no holocausto

 Castelo de Buda ou Palácio Real 








Catedral de Santo Estêvão 




Imagem de Santa Rita

Praça na frente da catedral (reparem o piso)

Torres da catedral

 Palácio das Artes




Na livraria do complexo cultural

Arquitetura lembra embarcações






Espelho d´água com construção de inspiração greco-romana

Bronze lembra uma das maiores atrizes da Hungria


Wagner na frente do Palácio das Artes

 Termas Gellért




 Passeio noturno de barco




 Outros detalhes

Detalhe do prédio onde fica o Café Nova York

Uma das belas pontes de Budapeste

Escultura em bronze de um poeta húngaro




Wagner examina uma vitrine de antiguidades

Escultura de sapatos que lembra os judeus mortos na Segunda Guerra

Hotel onde nos hospedamos em Budapeste

Entrada do hotel

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