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Apreciando uma das belas esculturas que estão nas praças de Budapeste (foto de Wagner Cosse) |
Fotos de Thelmo Lins e Wagner Cosse
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Nesta postagem, vamos visitar
Budapeste, capital de Hungria. Eu estive lá em 2010, por sugestão do cantor e
produtor cultural Wagner Cosse, que fez a viagem comigo. Até então, nunca tinha
lido nada a respeito da cidade e achava que ela deveria ser uma das vetustas
capitais do bloco oriental, com aquela cara cinzenta que parecia ter as antigas
repúblicas soviéticas. Ledo engano.
Budapeste
é uma cidade de aproximadamente dois milhões de habitantes e traz alguns dos
traços marcantes do antigo Império Austríaco, a partir do século 17. Mas sua
formação é bem anterior a isso. Remonta ao século 9, quando os magiares,
cavaleiros oriundos das margens do Rio Volga, dominaram a região. Mas a cidade
também foi dominada, em certo período, pelos turcos. E integrou o Império
Otomano (séculos 14 a 17). E dele, há muitas influências, em especial os banhos
turcos famosos da capital.
Budapeste
é formada por duas cidades: Buda, a mais antiga; e Peste, que começou a se
desenvolver a partir do século 19. É possível notar, em sua arquitetura, marcas
de todas essas fases, em especial àquela em que a Hungria tornou-se uma nação,
em 1867.
A
primeira lembrança que temos ao ver tão belos edifícios é a de Paris, principalmente na Avenida Andrássy e arredores. A mais sensível diferença é o fato (e que
fato!) de ser banhada pelo Rio Danúbio.
Estive
lá em março, no início da primavera, quando ainda estava frio e com o tempo
nublado. Só tivemos a felicidade de um dia de sol, que acabou sendo arrebatador
pelo efeito dos raios dourados sobre a cidade, que ganhou nova vida. Mesmo
assim, aproveitamos bem a cidade no que ela tinha de melhor: a área central,
com muitos edifícios belos, calçadas monumentais, pontes lindíssimas, jardins
floridos e muita história.
Vale
a pena lembrar de alguns pontos mais impressionantes. A começar pelo prédio do
Parlamento, um imponente edifício às margens do Danúbio, que é muito comparado
com o parlamento inglês. É o maior edifício da cidade. Sua construção teve
início em 1885, tendo a inauguração decorrido no 1.000º aniversário do país, em
1896. A conclusão do edifício deu-se a 1904. Como curiosidade, o arquiteto do
edifício, Imre Steindl, tornou-se vítima de cegueira antes da sua conclusão e
não pode vislumbrar sua obra-prima. O prédio tem 700 salas e gabinetes, numa
área de aproximadamente 18 mil m2. É possível fazer uma visita guiada por suas
luxuosas dependências. Além do plenário, dos majestosos corredores e das
impressionantes esculturas e afrescos que adornam o prédio, o parlamento abriga
a Santa Coroa da Hungria ou Coroa de Santo Estêvão e o centro real, símbolos do
estado húngaro. A coroa traz uma curiosidade: uma cruz é torta, fruto de um
descuido em seu armazenamento. Mesmo assim, nunca foi consertada. Ela pesa
cerca de dois quilos e é feita em ouro e pedras preciosas.
O
teatro da Ópera de Budapeste, ou melhor, Ópera Estatal Húngara é a maior casa
de espetáculos da Hungria. Ela foi construída de 1875 a 1884, em estilo
predominantemente neorrenascentista, que lembra muito a imponência do
Parlamento. Quem a criou foi o arquiteto húngaro Miklós Ybl. Seu interior
comporta pouco mais de 1.200 espectadores. Atualmente, a ópera recebe mais de
130 apresentações anuais. Tive a oportunidade de assistir ao balé Branca de
Neve, com cenários e figurinos encantadores. As mudanças de cena e os efeitos
visuais foram incríveis. Confira a programação em www.opera.hu.
O
Mercado Central (1894) é outra parada obrigatória. O prédio em si vale a
visita, pois lembra uma imensa estação ferroviária. O segundo andar é repleto
de restaurantes típicos e nós aproveitamos a ocasião para uma parada por lá. No
primeiro andar, as tradicionais barracas de produtos alimentícios, artesanato e
outros itens. O que mais chamou a atenção foi a quantidade de páprica, uma
espécie de condimento. Posteriormente, soube que o nome páprica é um derivativo
da palavra húngara para pimenta. Ou seja, deve ser um dos alimentos preferidos
do povo daquele país.
Vale
a pena visitar a sinagoga da cidade, um belíssimo edifício do século 19. É
considerada a maior da Europa. Foi construída nos anos 1854-1859, em estilo
romântico, combinando elementos neomouriscos e neobizantinos, pelos arquitetos
Lajos Förster e Frigyes Feszl. Dentro ela cabem quase 3.000 pessoas. A Hungria
é um dos países que mais abrigaram judeus no continente europeu. Por isso,
durante a Segunda Guerra Mundial, aventou-se a possibilidade de transformar a
cidade em um grande cemitério. Muitos judeus foram assassinados nessa época e
um monumento, do lado de fora da sinagoga, lembra esse triste período. É uma
espécie de árvore de metal, criada pelo escultor Imre Varga, cujos frutos são
plaquetas com os nomes de vários húngaros que morreram durante o Holocausto.
O
Castelo de Budapeste, ou simplesmente o Palácio Real, é a próxima parada deste
tour pela capital húngara. Ele fica às margens do Rio Danúbio, numa colina do
lado de Buda. Sua construção arrebata pela imponência. Ele remonta a 1247 e,
desde então, vem sofrendo alterações, ampliando e recebendo melhorias. Até o
período monárquico, dali se governava o país. É possível fazer uma visita
guiada aos seus aposentos, todos muito luxuosos, expressando principalmente a
época do Império Austro-húngaro. Vale lembrar que a imperatriz Sissi (famosa
pela interpretação de Romy Schneider nos cinemas) nasceu na Hungria. Em 1948,
logo após a Segunda Grande Guerra, o conjunto arquitetônico passou por uma
restauração completa e ganhou o formato definitivo que conserva até hoje. Em
1987, a Unesco decretou-o Patrimônio da Humanidade, incluindo as margens do
Danúbio, o bairro do Castelo de Buda e a avenida Andrássy, do lado de Peste. Lá
ainda podem ser apreciadas várias exposições, com ênfase naquela com os mais
expressivos artistas daquele país.
A
Catedral de Santo Estêvão é o maior templo católico de Budapeste, com 96 metros
de altura e a capacidade para 8.500 fiéis. Sua construção foi concluída em
1905, uma das épocas áureas da cidade, após 54 anos de obras. A fachada
principal traz duas torres sendo que, na da direita, está o maior e mais pesado
(nove toneladas) sino da Hungria. Inspirada na Igreja de São Pedro, no
Vaticano, de sua cúpula pode se ver a mais bela vista panorâmica da cidade.
Para isso, é preciso enfrentar mais de 300 degraus.
Outro
edifício encantador é o Café Nova York. Vi as fotos e fiquei abismado com a
beleza e imponência. Mas, como a grana estava curta, não tive coragem de entrar
e pagar os preços extorsivos. Quem sabe, da próxima vez.
Para quem
gosta de uma arquitetura mais contemporânea, a capital oferece muitas opções.
Dentre elas, conhecemos o Palácio de Artes, criado por Zoboki-Demeter e
Arquitetos Associados, em 2005. O edifício tem uma sala de concertos e espaços
para apresentações artísticas e exposições. Sua beleza se completa pelo fato de
ser localizado às margens do Danúbio. Ao seu redor, está sendo desenvolvido
todo um bairro moderno, com praças e esculturas que homenageiam ídolos da cena
cultural da cidade.
No
mais, Budapeste é caminhar a pé, curtindo as instigantes estátuas e esculturas
que decoram as principais praças e calçadas. Os jardins são muito bem cuidados,
apesar do clima inóspito para nós, brasileiros. Se o frio apertar, não esqueça
de passar nas termas. Os banhos lembram as nossas estâncias de Araxá, São
Lourenço, Caxambu ou Poços de Caldas. Há alas mistas e separadas (masculinas e
femininas). Se você não ficar incomodado de se banhar com outros homens nus ao
seu lado, divirta-se. Confesso que eu prefiro ir para esses lugares públicos de
calção ou sunga.
Por
incrível que pareça, Wagner e eu arriscamos a um passeio noturno de barco pelo
Danúbio. Apesar da baixa temperatura e do vento gelado, cumprimos bravamente o
compromisso, deliciando-nos com as paisagens. Com a iluminação noturna, em tons
sépia, a cidade fica ainda mais bonita, tanto nas margens do rio quando nas
principais avenidas.
Budapeste
é um programa ótimo para, no mínimo, uma semana. Os bondes ou metrô levam a
qualquer parte. Embora a língua seja um dificultador, os preços de hospedagem e
alimentação são bem mais em conta que Praga ou Paris, por exemplo. Vale a pena
colocá-la em seu próximo roteiro.
Dicas de leitura:
Budapeste
- 1900 - Um retrato histórico de uma cidade e sua cultura, de John Lukacs,
historiador nascido em Budapeste. O livro descreve o apogeu da cidade, a partir
de, seus habitantes, a comunidade judaica, a política e seus principais
artistas, como Bela Bartók, Kodály, Krudy, Ady, Molnár, Koestler, Szilarde von
Neumann. Veja uma resenha detalhada em
Budapeste,
de Chico Buarque – O compositor e escritor brasileiro tornou a
capital húngara o tema de seu terceiro livro. O enredo é narrado por José Costa,
um ghost-writer, especialista em escrever cartas, artigos, discursos ou livros
para terceiros, sob a condição de permanecer anônimo. Na volta de um congresso
de autores anônimos, Costa é obrigado a fazer uma escala imprevista na cidade
título do romance, o que desencadeia uma série de eventos que constituem o
centro da trama: casado com a apresentadora de telejornais Vanda, Costa conhece
Kriska na Hungria, que o apelida de Zsoze Kósta e com quem aprende húngaro -
segundo o narrador, "a única língua do mundo que, segundo as más línguas,
o diabo respeita". Entre as diversas idas e vindas entre Budapeste e o Rio
de Janeiro, a trama se alterna entre o seu enfeitiçamento pela língua húngara e
o seu fascínio em ver seus escritos publicados por outros, bem como o seu
envolvimento amoroso com Vanda e Kriska (fonte Wikipedia). Dizem que o
compositor nunca esteve na cidade, mas construiu uma cenografia impressionante,
bastante verossímil.
Centro de Budapeste
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Clima frio e chuvoso de março em Budapeste |
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Jardins floridos e bem cuidados |
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Estátua do Pequeno Príncipe às margens do Danúbio |
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O bonde |
Parlamento
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O prédio à beira do Rio Danúbio |
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O edifício visto do Castelo de Buda |
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Corredores |
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Cúpula |
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A coroa da monarquia húngara, com a cruz torta |
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Plenário |
Ópera de Budapeste
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Fachada |
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Wagner na plateia do belo teatro |
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Em um dos camarotes |
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No hall de entrada do edifício |
Mercado Municipal
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A páprica está em todos os lugares (cachos avermelhados no alto da barraca) |
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Páprica (vermelha) |
Sinagoga
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A escultura em metal que homenageia os mortos no holocausto |
Castelo de Buda ou Palácio Real
Catedral de Santo Estêvão
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Imagem de Santa Rita |
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Praça na frente da catedral (reparem o piso) |
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Torres da catedral |
Palácio das Artes
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Na livraria do complexo cultural |
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Arquitetura lembra embarcações |
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Espelho d´água com construção de inspiração greco-romana |
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Bronze lembra uma das maiores atrizes da Hungria |
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Wagner na frente do Palácio das Artes |
Termas Gellért
Passeio noturno de barco
Outros detalhes
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Detalhe do prédio onde fica o Café Nova York |
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Uma das belas pontes de Budapeste |
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Escultura em bronze de um poeta húngaro |
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Wagner examina uma vitrine de antiguidades |
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Escultura de sapatos que lembra os judeus mortos na Segunda Guerra |
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Hotel onde nos hospedamos em Budapeste |
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Entrada do hotel |
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