domingo, 7 de fevereiro de 2021

EUROPA 13 - Visitando o Vaticano

 

Na Praça de São Pedro

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Como é difícil imaginar, no início de fevereiro de 2021, quando escrevo este texto, que ficaríamos quase um ano assolados pela pandemia do Covid-19, que nos obrigou a uma temporada de isolamento social, sem viagens, com as esperanças balançadas. Ainda mais no Brasil, um país que está com dificuldades de criar um plano de vacinação e a imunização da população corre a passos de tartaruga.

            E, nesse período, não pude e não quis viajar, preservando a minha vida. O turismo despencou no mundo inteiro, causando muito prejuízo. Mas, embora eu tenha me afastado um pouco do blog, tenho ainda pendências relativas à viagem de fiz em 2019 à Europa e que, apesar do tempo passado, ainda são pertinentes. Nesse tour, com os amigos Conceição, Vinicius e Wagner, passamos por Portugal, Espanha, França, Áustria e Itália. Grande deste percurso está narrado e devidamente ilustrado aqui, no Descobertas do Thelmo.

            Um dos locais, ainda inédito, abordo neste texto: o Vaticano. Há muito eu queria conhecer o epicentro do catolicismo, em especial as maravilhosas obras de arte que estão ali guardadas. Para isso, foi preciso comprar com muita antecedência, ainda no Brasil, tíquetes para visitar o Museu do Vaticano, com direito a uma guia que falava português. Ela, por sinal, era muito espirituosa e até mesmo irônica quando narrava a procedência das obras expostas, muitas obtidas de maneira ilícita ou pouco convencional para os padrões éticos de uma entidade religiosa, o que nos provocava risos. O valor do ingresso gira em torno de 20 euros.

Naquela época, em pleno verão europeu de 2019, quando não havia pandemia, o Museu do Vaticano recebia cerca de 40 mil pessoas por dia. Isso mesmo: 40 mil!!! É mais do que a população de muitos municípios. Façam as contas deste número multiplicado pelo valor do ingresso... Então, imagine a logística para atender tanta gente. Vale a pena ressaltar que eles exigem que a pessoa visite o espaço com roupas menos mais sociais, evitando bermudas, blusas muito decotadas etc. e tal. Afinal, íamos estávamos praticante dentro de uma igreja.

O museu – ou os museus, como alguns dizem – abrangem várias ramificações da história da arte. Visitei o acervo egípcio, as obras greco-romanas, a ala dos mapas e a galeria das tapeçarias. Nessas situações em que existe um acervo imenso e difícil de se conhecer em algumas horas, tenho, por hábito, me deixar levar pelas sensações e registro as obras que mais me chamam a atenção ou me comovem, além, é claro das obras primas.

Uma delas é o Lacoonte. A estátua o retrata ao lado de seus filhos, Antífanes e Timbreu, sendo estrangulados por duas serpentes marinhas, uma lenda relatada na “Eneida”, de Virgílio, dentre outras obras. Lacoonte era um sacerdote de Apolo, e este ficou bastante irritado quando seu discípulo se casou e teve filhos. Em represália, Apolo mandou duas serpentes para matarem os dois rapazes. Lacoonte morreu ao lado deles, na tentativa de salvá-los.

Dito isso, vem o mais interessante. A escultura propriamente dita foi criada entre 40 a.C. e o ano de 68 d.C. (segundo especialistas) e atribuída aos romanos Agesandro, Atenodoro e Polidoro. Depois disso, ela ficou mais de 1.000 anos desaparecida até que, em 1506, descobriram que ela estava soterrada debaixo das antigas Termas de Tito, em Roma. Fizeram sua retirada, embora ela estivesse desfeita em cinco pedaços. Logo ela foi identificada e restaurada. A sua beleza e técnica apurada chamou a atenção dos artistas e admiradores da arte, inclusive Miguelângelo, o maior escultor da época e talvez da história. Ele confessou que a escultura o fez repensar nas possibilidades técnicas de sua própria obra. Naquele momento, a história respirava os novos ares do Renascimento.

A decoração do espaço, digo do museu, também é digna de nota. É um deslumbre, pois são todas obras de arte, do chão até o teto. Um antigo piso feito em mosaico, que havia pertencido a uma terma romana, me chamou a atenção pela beleza e conservação.

Conduzidos pela guia, acabamos não visitando um dos lugares mais famosos do museu, as Salas de Rafael, aonde está, dentre outras, “A Escola de Atenas” (1511). Infelizmente, nem tudo é possível e acabei me conformando.

A visita se encerra com chave de ouro: a capela Sistina, onde está a obra prima de Miguelângelo e talvez uma dos mais marcantes e famosos afrescos já criados por um artista, tanto nas paredes quanto no forro. Pintados entre 1508 e 1512, com o auxílio de andaimes, a obra é famosa pelos sofrimentos causados ao artista, em especial pelos embates que travava com o papa da época, Júlio II. Este tema é retratado no filme “Agonia e Êxtase”, de 1965, com Rex Harrison e Charlton Heston. Embora romanceada, vale a pena conferir a película.

 Podemos ficar na capela não mais do que uns 15 minutos. Então, imagine a quantidade de choques que recebemos de todos os lados. É uma das coisas mais lindas que eu já vi em toda a minha vida. Só de entrar na capela, já valeu toda a viagem. A vontade é que ali estivesse vazio e que pudéssemos deitar no piso e ficar horas admirando cada detalhe. Não é permitido fotografar a capela. Então, me resta recordar os detalhes nos livros, na internet ou por meio de vídeos e filmes.

Quando a gente pensa que já viu tudo, a saída do museu passa pela Basílica de São Pedro, principal edifício do Vaticano e da Igreja Católica. E é um dos maiores templos do mundo, também. Tudo ali respira arte, mais até do que devoção ou oração. É muita obra de arte reunida, a começar pela Pietá, de Miguelângelo, a escultura mais famosa do mestre renascentista. O domo, de 136,5 metros, é arrebatador. E o Baldaquino, que fica no altar, impressiona por sua riqueza de detalhes.

Saio da basílica, acompanhado por meu amigo Vinícius (Conceição e Wagner foram em outra direção) e adentramos a praça de São Pedro, onde acontecem as principais festas religiosas. Geralmente, o papa aparece às quartas-feiras para dar a sua bênção. Nossa visita aconteceu numa segunda-feira. Descobrimos, por isso, que era um dos dias com menos afluxo de pessoas.

Ah, também vimos os famosos soldados da Guarda Suíça Pontifícia, que são responsáveis pela segurança do complexo e, por conseguinte, do papa.

A tarde caia e era hora de relaxar um pouco, caminhando pelas ruas históricas, e admirar a beleza que o céu azul de Roma proporcionava.

Arrivederci! Em breve, a gente se encontra para mais histórias.   

Coleção Egípcia





Lacoonte e seus filhos




Outras obras

Piso de mosaicos




Outro piso de mosaico, desta vez em formato arredondado




Galeria das tapeçarias



Galeria dos mapas





Basílica de São Pedro


Pietá, de Miguelângelo





Baldaquino

Cúpula e Baldaquino


Museus recebem 40 mil pessoas diariamente, em seu funcionamento normal

Detalhe do Baldaquino e altar da basílica

Praça de São Pedro


Guarda Suíça


Vinícius observa os detalhes da arquitetura








segunda-feira, 3 de agosto de 2020

Europa 12 – Florença

Em frente ao Duomo de Florença (foto de Wagner Cosse)

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            Estávamos em agosto de 2019, quando ainda era possível viajar, perambular por aí, conhecendo, investigando e desfrutando de lugares maravilhosos e atraentes. Um ano depois, quando escrevo este texto, estamos há mais de quatro meses de confinamento, isolamento social, devido à pandemia do coronavírus. O turismo praticamente foi extinto nesse período. As empresas ligadas a viagens, como companhias aéreas e ferroviárias, estão à míngua, muitas falindo ou demitindo grande número de empregados. O aspecto é de desolação e até de certa falta de esperança.

            E foi justamente neste momento que me vem à lembrança minha visita à Florença, naquele agosto, quando conheci esta icônica cidade italiana. É estranho imaginar, nas nossas atuais condições, aquele grande número de pessoas circulando pelas praças e ruelas do centro histórico, principalmente porque era verão, a estação com maior fluxo de turistas.

            Viajávamos em quatro pessoas (Conceição, Vinicius, Wagner e eu) e chegamos à cidade na manhã do 19º dia da turnê que empreendemos (vejam os textos neste blog, nomeados como Europa de 1 a 11). Ficamos em um hotel simples, próximo da área histórica, que tinha, como curiosidade, um terraço, de onde se tinha uma bela vista da cidade.

            Tínhamos um dia para conhecer Florença. Uma pena, mas foi o possível dentro de nosso roteiro. Então, nos organizamos para extrair o melhor desse tempo. Wagner e eu optamos por fazer caminhadas a pé, apesar do forte calor. Conceição e Vinícius conheceram um guia brasileiro que trabalha na cidade e que possuía um carrinho parecido com aqueles transportes de pistas de golfe. Nele, eles percorreram as principais atrações com menos cansaço.

            Mas, enquanto estávamos juntos, fomos direto à Piazza (praça) del Duomo, onde está situada a catedral dedicada a Santa Maria del Fiore. Impossível entrar, se não houver comprado o ingresso com antecedência. A fila é quilométrica. No entanto, somente a fachada já vale a visita. É lindíssima, em estilo neogótico. Defronte ao templo, está o também belo Batistério (a porta é um deslumbre). A visita interna vale a pena, pois lá estão obras de arte de grandes pintores italianos, como Giotto, por exemplo. Se você tiver a oportunidade de ficar na cidade por mais tempo, e comprar o ingresso pela internet, não perca esta atração.

            De quase todos os lugares de Florença é possível observar os contornos arredondados dessa imponente igreja, com sua enorme cúpula. Notei que é possível também subir ao seu topo, pois havia visitantes lá. O Campanário é a torre do Duomo, com o mesmo estilo arquitetônico do restante do templo.

            Depois disso, é claro, fomos à Piazza della Signoria (1332), onde estão localizados o Palazzo Vecchio e a réplica em tamanho original do David, de Michelangelo (a original está em um museu da cidade). Bem em frente ao palácio, está a Loggia dei Lanzi (1382) e suas esplêndidas estátuas de mármore e bronze. As mais famosas são “O Rapto das Sabinas”, de Giambologna (1583), e o “Perseu”, de Cellini (1554). O palácio está aberto à visitação, sendo uma parte gratuita e outra mediante a compra de ingressos. Na parte gratuita, há um café, onde fizemos nossa refeição. Na parte paga, é possível visitar as dependências da construção, como o famoso Salone dei Cinquecento (1495). Sugiro assistir ao filme “Inferno”, disponível nas plataformas virtuais, em que o personagem de Tom Hanks visita este e outros lugares de Florença, com imagens de tirar o fôlego.

            Dando continuidade ao passeio, resolvi caminhar sozinho, enquanto Wagner conhecia o Palazzo Vecchio (ele ganhou um ingresso). Passei defronte ao museu Uffizi, uma das mais importantes galerias de arte do mundo. Nele estão obras de grandes artistas italianos, como Leonardo da Vinci, Rafael e, principalmente, Botticelli. Para visitá-lo, paga-se uma taxa e enfrenta-se uma longa fila. Fiquei na dúvida se entrava ou não, pois passaria ali umas boas três horas, fora o tempo de espera. Resolvi abdicar desse programa em prol de conhecer um pouco mais a cidade.

            Em viagens como essa que fizemos pela Europa, a gente acaba caminhando muito e, no meu caso, ficando muito tempo em museus. É um dos meus programas favoritos, embora seja também extremamente cansativo. Ainda mais para mim, que gosto de fotografar, às vezes a visita a um museu chega a ser extenuante, pois ficamos muito tempo parados de pé em frente às obras. Enfim, caminhar mais pelas ruas foi uma boa decisão, deixando que meus passos me levassem a esmo, sem preocupação de tempo e horário.

            Um pouco mais adiante, chega-se ao rio Arno, o principal da região, com a famosa Ponte Vecchio (1345). Ocupada originalmente por açougueiros, curtidores de couro e ferreiros, o local provocava um grande mal cheiro na cidade, barulho e até a poluição do rio. Em 1593, eles foram expulsos dali e a ponte foi ocupada por lojas. Atualmente, é um dos pontos de venda de requintadas joalherias.

            O dia caminhava para seu final e eu reencontrei o Wagner. Havíamos combinado de assistir ao pôr do sol na Praça Michelangelo, de onde pode se ter uma maravilhosa vista da cidade. Lá é o ponto de encontro de centenas de pessoas, que estão interessadas no espetáculo da natureza. É indescritível. Espero que as fotos mostrem um pouco da cena que vimos, completamente embasbacados.

            Extenuados, mas felizes, fomos descansar, pois na manhã do dia seguinte seguiríamos para Roma, a capital da Itália, e o último destino de nossa turnê. Como eu já adiantei em outra postagem sobre as nossas viagens de trem, acabamos transformando o nosso cansaço em motivo de riso, tirando fotos bastante teatrais na estação ferroviária.

            Até a próxima!


Vista parcial do centro histórico, com as torres do Palazzo Vecchio, o Campanário e o Duomo (dir)

A privilegiada vista do terraço de nosso hotel


Piazza del Duomo




Meus companheiros de viagem: Wagner, Conceição e Vinicius




Detalhe da porta do Batistério

Batistério

Piazza della Signoria



Fachada do Palazzo Vecchio

David, de Michelangelo (réplica)

Perseu, de Cellini

Fonte da piazza

O Rapto das Sabinas



Interior do Pallazo Vecchio






Fachada da Galeria Uffisi com o Palazzo Vecchio ao fundo



Rio Arno e a Ponte Vecchia





Piazza della Croce



Estátua de Dante


Praça Michelangelo e o Pôr do Sol de Florença









O brilho das luzes nas águas do rio Arno


Na estação ferroviária, revelando nosso cansaço em poses teatrais (foto Wagner Cosse)

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