Serra
da Boa Esperança, esperança que encerra
No
coração do Brasil um punhado de terra
No
coração de quem vai, no coração de quem vem
Serra
da Boa Esperança, meu último bem
Parto
levando saudades, saudades deixando
Murchas
caídas na serra lá perto de Deus
Ó
minha serra, eis a hora do adeus, vou me embora
Deixo
a luz do olhar no teu luar, adeus
Pois
a serra, que inspirou o compositor Lamartine Babo (1904-1963) a criar a bela
canção em 1937, transformou-se em um parque estadual em 2007, com área de
proteção de 5 882,40 ha. Ele está situado no sul de Minas Gerais, às margens do
lago de Furnas, entre os municípios de Boa Esperança e Ilicínea.
Estive
lá em outubro de 2022, ao lado de meu companheiro de viagem, Wagner Cosse, para
conhecer um pouco das belezas do parque e da região. Ficamos hospedados em Boa
Esperança, cidade banhada pela represa. As águas são um bálsamo para a cidade,
terra de famosos, com o pianista internacional Nelson Freire (1944-2021) e o
escritor, teólogo e educador Rubem Alves (1933-2014). Mas Boa Esperança ainda mantém vestígios de
seu passado, registrados em alguns casarões, igrejas e praças.
É extremamente agradável
caminhar pela região que circunda a matriz, cuja padroeira é Nossa Senhora das
Dores. O templo original é de 1859, mas nota-se que sofreu muitas reformas
desde então, descaracterizando-o um pouco. Os vitrais que adornam a igreja são
belos, assim como os altares principais. Em torno da praça da matriz, estão
alguns belos imóveis, que atestam vários períodos arquitetônicos.
Outro local de lazer e
caminhada é a orla. O calçadão que a envolve é extenso e, em sua maior parte, coberto
por árvores que abrigam os passantes do sol forte dessa época do ano. Há muitos
caminhantes por ali, que utilizam o local para a prática esportiva. Na região
há também alguns mirantes, que facilitam a contemplação.
O lago permite várias
modalidades de lazer, como passeios de lancha, jet ski, caiaque, pesca
esportiva, dentre outros, além de duas pequenas praias, onde a população e os
visitantes podem nadar e se refrescar.
Na orla está o centro de
informações turísticas, próximo ao hotel Racini, onde nos hospedamos. O guia
Vinicius, que administra o local, elaborou uma série de circuitos para atender
os diversos apelos dos visitantes. Como queríamos conhecer o parque, optamos
pelo roteiro da cachoeira de Santa Luzia, que incluía uma visita ao mirante do
Branquinho, com direito a almoço no restaurante das Três Irmãs e café da tarde
na cooperativa Xícara da Silva. Este é um dos lugares mais charmosos de Boa
Esperança. Lá somos apresentados aos tipos de café produzidos no município, com
direito a uma aulinha de como degustar melhor um dos líquidos preferidos dos
brasileiros.
Por falar em café,
Vinicius também oferece um circuito pelas fazendas de café, mostrando as
diversas fases desde o plantio até a torrefação do grão. Outro passeio, dentre
os oferecidos pela guia, é uma ida ao Poços do Branquinho, também no Parque da
Serra da Boa Esperança. O trajeto até o local dura aproximadamente uma hora de
caminhada para ir e outra para retornar. O interessado pode optar por utilizar o
próprio veículo ou o automóvel oferecido pelo guia.
A mais ou menos uma hora
de carro de Boa Esperança, dentro da região do lago de Furnas, situa-se a
pequena Guapé, cidade de cerca de 15 mil habitantes. O município é banhado por
várias cachoeiras, suas principais atrações turísticas. Conhecemos o Parque
Ecológico, localizado a 15 km do centro da cidade, por estrada de terra bem
conservada. Trata-se de um terreno particular, cujo proprietário urbanizou e
organizou a visitação, por meio de trilhas, e adequou-o às normas de segurança
para o melhor atendimento ao visitante. Há área de camping, churrasqueiras e
restaurante. Paga-se uma taxa para utilizar o balneário.
São três cachoeiras e
poços, que são alcançados com alguma facilidade. Com certeza, a segunda
cachoeira é um dos lugares mais bonitos que já vi recentemente. Um local
encantador, apesar das águas geladas. Com o tempo quente, foi irresistível. Mas
o impacto, como devem imaginar, bem difícil no primeiro momento.
Mesmo com tantas atrações
na zona rural, a área central de Guapé não oferece boas opções de lazer nem de
alimentação. Boa Esperança, por sua vez, tem locais bastante aprazíveis para se
degustar um café, fazer um lanche ou refeições, com preços variados. Embora a
gente tenha feito a viagem no feriadão da Semana da Criança, muita coisa estava
fechada. Parece que o fluxo maior de turistas ocorre nos finais de semana,
principalmente no domingo, ou quando há algum evento especial na cidade, como o
famoso festival de música.