|
A entrada da histórica Toledo, com o Rio Tejo. Acima, as torres do Alcázar. |
Fotos de Thelmo Lins
Clique nas fotos para ampliá-las
A cidade
de Toledo, na Espanha, sempre me atraiu por suas construções, ruelas, praças e
o famoso artesanato damasquinado. Mas, definitivamente, porque lá viveu um dos
meus pintores favoritos, El Greco. Então, não pude deixar de aproveitar, no
tour pela Europa, para visitá-la.
Pega-se um trem em Madri e, em cerca
de 25 minutos, já estamos em Toledo (70 km da capital espanhola). O primeiro
impacto é a belíssima estação ferroviária, em estilo mourisco. Depois de algumas
informações, resolvemos (meus amigos Vinicius, Conceição, Wagner e eu) subir
para o centro histórico da cidade a pé.
Como Toledo remonta a 500 anos A.C.,
é possível passar por várias etapas dessa rica e extensa história. Além disso –
e eu desconhecia o fato até então – a cidade é banhada pelo rio Tejo, que nasce
um pouco acima dali e vai desaguar em Lisboa. O curso d’água emoldura a antiga
vila, onde estão os seus principais atrativos, como o Alcázar, a catedral, as
ruas comerciais, restaurantes e outros edifícios, inclusive o Museu Casa de El
Greco.
A subida encerra-se na Plaza de
Zocodover, de onde se ramifica um labirinto de ruas. Como o dia estava muito
quente, em pleno verão, resolvi caminhar pelos trechos mais sombreados. A
primeira parada foi na praça da catedral, uma construção impressionante, que
atravessou vários séculos. No seu interior é possível observar as marcas dessas
fases na arquitetura e na decoração. Sua construção foi iniciada em 1226 e
terminada somente em 1493. Os retábulos, as pinturas, os afrescos são
impressionantes. Cobra-se uma taxa para conhecer a igreja, mas o público também
tem a opção de observá-la de um determinado ponto, sem qualquer ônus. Como
havia alguns casamentos no templo, conseguimos entrar gratuitamente, pois não é
cobrado ingresso quando há uma cerimônia religiosa.
Depois da catedral, fui percorrer a
pé a trilha de El Greco. A primeira parada foi a Igreja de Santo Tomé, onde
está uma das suas telas mais famosas, “O Enterro do Conde de Orgaz”. Não é
permitido fotografar esta obra, razão principal da visita ao templo religioso,
mas vou reproduzir neste blog uma imagem captada na internet, para que entenda
o quanto é preciosa esta pintura, um das obras primas do pintor. É necessário
desvencilhar-se de inúmeros grupos de pessoas para poder chegar perto da tela,
que é realmente um deslumbre. Mas a arquitetura da igreja também é muito bonita
e remonta ao século XII.
A próxima parada é o Museu Casa de
El Greco. Não se sabe se ele realmente morou ali, mas o edifício é lindo e
expressa bem como se vivia naquela época (século XVI) em Toledo. Localizada no
bairro judaico, a residência conserva o mobiliário de época, além de belos detalhes
decorativos, que remontam à invasão moura. No entanto, são as telas de El Greco
o principal atrativo do local.
Domenikos Theotokopoulos nasceu em
Creta, em 1541. Mais tarde, mudou-se para Veneza, onde aprendeu pintura com
mestres como Ticiano e conviveu com a elite cultural daquela cidade, que era um
dos mais importantes centros urbanos do mundo. Aos 29 anos, foi para Roma, que
ainda respirava os ares do Renascimento. Ficou na cidade até 1576, quando a
peste dizimava milhares de pessoas. Sem muitas encomendas, resolveu partir para
a Espanha um ano depois. Chegou a Toledo, grande centro econômico e religioso da
Espanha, onde se estabeleceu.
Ali sua arte floresceu de maneira
mais intensa. Desenvolveu propostas decorativas para várias ordens religiosas,
hospitais, igrejas e colégios. Ganhou o apelido de El Greco, que se tornou sua
marca registrada. Em Toledo, ele morreu em 1614, onde seu corpo jaz no Convento
de São Torquato. Teve, como discípulo, seu próprio filho.
No museu dedicado a El Greco, há
várias telas, esculturas e até imagens desenvolvidas por ele e por seus
discípulos. Mas são as pinturas que mais se destacam, como a paisagem de Toledo
e os apóstolos. As figuras esguias ganhavam vida em seus pincéis. Seu estilo é
absolutamente original e antecipa vários movimentos artísticos posteriores.
Dedicou parte de sua vida à pintura religiosa e são poucos os quadros que não
evocam a este tema.
Depois deste choque artístico,
continuei a perambular por Toledo, e deparei-me com a Igreja de San Idelfonso.
Além de seu belo interior, o templo oferece a possibilidade de ter uma vista de
Toledo do alto de suas torres. São mais de 100 degraus, mas a paisagem
compensa, apesar da rede de proteção que atrapalha um pouco as fotos.
Por fim, o resto do dia (o trem
partiria às 20h30) foi para contemplar as ruas, as vitrines, as pessoas, os
edifícios. Sentir, no caminhar tranquilo e sem pressa, os detalhes que a cidade
nos oferece.
Nenhum comentário:
Postar um comentário