domingo, 28 de maio de 2023

Viagem ao Equador - Parte III - Arredores de Quito: Quilotoa, Otavalo e Mitad del Mundo

 
No parque da Mitad del Mundo (foto de Wagner Cosse)

Fotos de Thelmo Lins

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            Há muitos passeios disponíveis nas proximidades de Quito, capital do Equador, onde estive entre o final de abril e o início de maio de 2023. Num raio de aproximadamente 200 km, visitamos (eu e meu companheiro de viagem, Wagner Cosse), nesta ordem, Quilotoa (165 km), Otavalo (90km) e Mitad del Mundo (26km). Para tal, contratamos guias locais que cobram taxas que vão de 25 a 150 dólares por pessoa, com direito a uma boa pechincha. Estes valores podem ser reduzidos quando se contrata o passeio em grupo, mas o risco é de um bate-volta rápido, sem direito a vivenciar alguns detalhes que transformam as jornadas. No nosso caso, os guias (motorizados) estavam por nossa conta e pararam em todos os lugares que pedimos.

            Vou descrever um pouco de cada experiência.

 

            Quilotoa

 

            Começando por Quilotoa. Trata-se de, talvez, uma das mais belas paisagens que vi em minha vida. É um vulcão extinto, cujo lago emergiu de sua cratera (ou caldeira, que seria a expressão mais correta), após uma explosão 200 mil anos atrás. As águas formaram um lago de aproximadamente três quilômetros de largura e uma profundidade que pode atingir (segundo alguns estudos) 380 m. Para deslumbre dos visitantes, as águas podem adquirir cores que vão do azul ao verde profundo, de acordo com a incidência do sol.

            O parque onde atração se situa é protegido pelo governo equatoriano, mas preservada pelos povos originários proprietários daquelas terras. Atualmente, há várias lojas, restaurantes e pousadas para atendimento aos turistas e viajantes. Quase todos com uma arquitetura bastante característica.

O lago pode ser visto de vários mirantes, inclusive um que está a 3.900 m de altitude. É também possível caminhar até a sua borda, por uma trilha de cerca de dois quilômetros. Não pense que é fácil. O fato de situar-se acima de 3.000 m complica o passeio, pois gasta-se em média uma hora e meia para descer e três horas para subir. Wagner se animou a enfrentar esse desafio, mesmo com o tempo chuvoso e frio. Eu preferi admirar o vulcão do alto, pois minha respiração ficou um pouco afetada pela elevação. Lá embaixo é possível fazer um passeio de barco e até mesmo nadar em uma determinada faixa de água. E, para os menos preparados fisicamente, a trilha pode ser feita a cavalo ou burro.

Tivemos muita sorte de apreciar o lago em sua plenitude, mesmo em um dia de céu nublado. Nosso guia contou-se que muitos visitantes se frustram quando chegam ao local e ele está coberto de neblina. Nesta época do ano, chove muito no país, provocando névoas que embaçam a visão.

No caminho para Quilotoa vimos paisagens espetaculares da zona rural do Equador, com suas plantações todas recortadas, em cores variadas, ao sopé das montanhas. Para completar o visual idílico, muitos rebanhos, principalmente de ovelhas. A nota triste é a quantidade de cachorros abandonados nas estradas, à espera de quem os alimente. Por isso, ao notarmos a situação, compramos ração e, à medida do possível, parávamos para proporcionar a esses animaizinhos um pouco de alegria.

Por fim, há o Cânion do Rio Toachi, cuja profundidade pode atingir 100 m. No local há uma parada, com direito a mirante, café e até mesmo uma alpaca para ver e fotografar. Tudo mediante a gorjeta de 10 dólares. A adrenalina fica por conta de um balanço colocado bem à beira do abismo, que pode ser experimentado pelos mais corajosos. A sensação é de que vamos ser lançados a qualquer momento no fundo daquele despenhadeiro. Aliás, encontramos outros balanços assim em pontos distintos da viagem. O mais famoso fica em Baños, que falarei posteriormente. Há também românticos locais para fotografar, com enfeites de corações, bandeiras e colibris.

 

Otavalo

 

A cidade de Otavalo, com cerca de 40 mil habitantes, denominada “Capital Intercultural do Equador”, tem a que é considerada a maior feira de artesanato indígena da América do Sul. Grande parte do comércio é voltada para área têxtil, mas há também espaço para o famoso chapéu conhecido como “Panamá”, apesar de ser uma criação do Equador (falarei em outra postagem sobre o assunto). O centro nevrálgico é a Praça dos Ponchos, onde se concentram centenas de barracas (de acordo com algumas informações, o número pode chegar a mais de mil).

A artesania baseia-se em roupas, artigos de cama e mesa, enfeites, dentre outros, feitos de lã de alpaca, lhama, vicunha e ovelha. São tecidos profusamente coloridos, com estampas de diversos modelos e desenhos. É um festival de cores, belíssimo de ser apreciado.

Estivemos em Otavalo em uma quarta-feira. O dia principal da feira é sábado. Infelizmente, para nossa decepção, a visita foi encurtada devido a uma chuva que desabou justamente quando chegamos à cidade. Os vendedores foram logo recolhendo suas barracas para proteger seus produtos. E, mesmo tendo ainda muitas opções para visitar, o aguaceiro tirou um pouco a graça circundar na área.

Em Otavalo há outras atrações, dentre elas uma belíssima cachoeira localizada nos arredores da cidade. Mesmo com o tempo ruim, nos arvoramos a fazer a caminhada, que teve aproximadamente três quilômetros de ida e volta. Fizemos fotos em frente ao prédio do centro cultural da cidade, que tem um belo painel.

É muito interessante observar a força que os povos originários têm na região, sendo que muitos ainda preservam a língua original, o “quíchua”. São tradições centenárias que vêm sendo preservadas por várias gerações e que traduzem no jeito como vivem, se vestem e comem.

 

Latitude Zero

 

Terminando o tour pelos arredores de Quito, num terceiro dia visitamos o parque chamado de “Mitad del Mundo”. Afinal, o país fica na latitude zero, divisora dos hemisférios. Conhecemos três lugares denominados “metade do mundo”, embora o monumento de maior visibilidade fica dentro de um parque com uma grande infraestrutura formada por lojas, restaurantes, galeria de arte e até mesmo uma capela. No dia da nossa visita, havia uma feira de vinis, com direito a apresentações artísticas.

            Em todas as visitas, recebemos informações técnicas e até científicas sobre o significado da linha do Equador. De como isso provoca transformações em nosso metabolismo, na posição das estrelas no céu e até mesmo no ritmo da água no ralo da pia. Em um dos pontos, adquirimos uma publicação bastante pedagógica sobre o assunto, com nomes dos cientistas que mapearam toda a região equatoriana para descobrir o local mais adequado para a divisão dos hemisférios. Nesse local, ainda pudemos apreciar um fantástico jardim de plantas típicas do Equador.

            Em outra área, além dos fatos históricos e científicos, havia jogos lúdicos como o desafio de colocar um ovo cru em pé em cima de um prego. Quem vencesse o teste, ganhava um diploma. Wagner e eu tivemos o prazer de concluir a tarefa, que (diga-se de passagem) não é nada fácil.

            Por fim, no parque principal, reconhecido com uma das maiores atrações turísticas do Equador, a brincadeira era tirar fotos em cima da faixa amarela, que representava a linha do Equador. Colocar, por exemplo, um pé do hemisfério norte e outro no hemisfério sul, assim por diante. O guia Marco, que nos levou a esses lugares tão preciosos, nos deu uma aula de geografia, de história, de culinária e até das questões políticas do país, enobrecendo a visita.

            É bom relatar que, além dos sítios principais das visitas, pudemos conhecer outras tantas atrações pelo caminho, que confirmavam o encantamento provocado pelo Equador, por meio de seu povo, suas montanhas, sua arte e artesanias.

            Vale ressaltar, por fim, que a sede da União de Nações Sul-Americanas (Unasur ou Unasul) fica próxima à região da Mitad del Mundo em um belo edifício de arquitetura arrojada. A Unasul foi fundada em maio de 2008, com o objetivo de buscar a integração sul-americana, reunindo o Mercado Comum do Sul (Mercosul) e a Comunidade Andina (CAN). Ao todo, os países participantes integram quase 400 milhões de habitantes. Em 2019, por um ato intempestivo, o ex-presidente Jair Bolsonaro retirou o Brasil do bloco. Com a chegada do presidente Lula ao poder, em 2023, o país retomou seu assento na Unasul e ainda participou de uma reunião realizada logo no início do ano, em Buenos Aires, na Argentina, para reativar os trabalhos e reconduzir a entidade aos seus princípios fundamentais.

 

            Nossa postagem termina aqui. Voltaremos com o nosso passeio a Baños, uma cidade onde a natureza comanda o turismo. Até lá!

Vulcão e Lago Quilotoa





Construções características da região


No caminho para Quilotoa, entroncamento de Pujili





Paisagens da estrada








Dois cães aguardando comida na rodovia


Cemitério

Escultura com máscara típica do folcore equatoriano

Rendilhado das plantações


Máscaras (artesanato)



Cânio do Rio Toachi



Balanço do abismo

Tentando superar o medo...

Wagner no mirante romântico de Toachi




Otavalo



Café e biscoito típico do Equador



Feira









Pinturas





Cachoeira

Centro cultural

Paisagem próxima de Quito

Guia Efrem

Mitad del Mundo



Wagner, eu e a linha do Equador

Jardim de Plantas Típicas







Estação Oriens


Área de exposição da estação, um dos locais
que se denominam "Metade do Mundo"


O pesquisador Humbolt e uma gravura do Cotopaxi (sec. XIX)

Hemisférios (norte e sul ou ocidental e oriental?)


Paisagem equatoriana da Reserva de Pululahua




Artesã

Museu do Sítio Intiñan 




Diplomas por colocar o ovo em cima de um prego

Wagner comemora.



Diplomas

Artesanato local






Parque Mitad del Mundo





Linha do Equador (amarela)



Artesanato




Em frente à galeria dedicada ao pintor Guayasamin

Obras de Guayasamin






Sede da Unasul






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