Cachoeira da Fumaça (foto Wagner Cosse) |
A internet não funciona bem em Lençóis. Agência bancária,
somente a do Banco do Brasil. E, de vez em quando, acontecem aqueles assaltos
que a deixam fechada por semanas. Aceitam-se pagamentos com cartões de crédito
e débito, mas nem em todos os lugares. O lado bom é desvincular-se um pouco das
redes sociais, e-mails e dos aplicativos do celular. Por isso, deliguei um
pouco desse vício que nos consome de ficar plugado o tempo todo. E, assim, não
postei as histórias desta viagem ao vivo, como costumo fazer.
Neste terceiro dia de viagem, com o sol já aparecendo
timidamente, resolvemos enfrentar o desafio de conhecer a Cachoeira da Fumaça,
a maior da Chapada Diamantina, com 380m de altura.
Ela fica no Vale do Capão, a aproximadamente 70 km de
Lençóis, onde estávamos hospedados. Além do trajeto de automóvel, teríamos que
vencer mais 6 km a pé, em uma caminhada cheia de percalços. O início dela é a
parte mais complicada, pois logo temos que enfrentar um paredão muito
cansativo. E dá-lhe subidas e mais subidas. Uma verdadeira prova para conferir
a resistência e a flexibilidade de nossas pernas e joelhos. Esta trilha,
diga-se de passagem, é a mais curta e nos conduz à parte alta da cachoeira. Para
chegar por baixo, onde está o poço, são necessários de três a quatro dias de
caminhada.
Depois da subida íngreme, andamos por locais um pouco mais
planos. Mas atravessamos área alagadas e até riachos. A paisagem se descortina
e conseguimos ver todo o vale abaixo de nós, com as montanhas conhecidas como
Três Irmãos.
Depois de algumas horas, chegamos ao ponto alto da Cachoeira
da Fumaça. A vista é deslumbrante, mas a altura do abismo me provocou uma
vertigem imediata. Alguns mais ousados chegavam à beira do chapadão. Só de
vê-los, eu arrepiava. Um desses ousados, foi o Wagner, meu companheiro de
viagem.
O medo não me impediu de sacar algumas fotos. Por causa do
período chuvoso que antecedeu à nossa visita, a cachoeira estava plena e
alcançava o poço lá no fundo. E não se espalhava no ar, como prevê o seu nome.
O resultado ficou muito bom. A nota negativa é que é impossível, nesse local,
tomar um banho refrescante, depois da extenuante caminhada, com aquelas águas
todas caindo em cima da gente.
Agora, é hora de voltar os mesmos 6 km. Já passava de três da
tarde e teríamos que deixar o parque antes das 18h, pois eles não permitem que
pessoas fiquem ali dentro durante a noite. E nós também não estávamos
preparados para isso, pois não levamos lanternas nem agasalhos.
Reservamos a noite para jantarmos em um restaurante do Vale
do Capão. O lugarejo é muito charmoso. Vale ressaltar, também, a beleza de Palmeira,
sede do município a qual o vale está inserido. A praça principal é belíssima,
com vários casarões preservados. Ficamos encantados!
Nossos amigos – inclusive Wagner – ficaram interessados em
retornar ao local, em outra ocasião, para fazer a trilha do Vale do Paty, que
demora de cinco a seis dias, passando por lugares deslumbrantes. Planos para
outra viagem.
Ressalto, também, a preocupação com a pouca estrutura do
Parque Nacional da Chapada Diamantina. Como é de hábito em outras áreas
preservadas brasileiras, o local tem uma equipe muito pequena, sofre com a
falta de recursos públicos e o descaso das autoridades. É mantido com o esforço
de pessoas abnegadas que trabalham ali e cuidam dele com o carinho e a
delicadeza que merece, considerando sua importância para a sustentabilidade da
região. Afinal, ele é considerado a caixa d´água da Bahia. Alguns estudantes
voluntários ficam no local contabilizando todos os visitantes, para convencer o
governo federal de que vale a pena investir na região. Um dos argumentos para
essa estrutura é a de que o turismo ainda é incipiente. Ma s somente a
cachoeira recebe de 15 a 25 mil turistas anuais, mesmo com tantas dificuldades
na trilha.
Encerramos aqui esta etapa e retornamos em nova postagem,
contando um pouco mais da experiência de conhecer a Chapada Diamantina, o
principal destino de ecoturismo do Brasil.
Fotos de Thelmo Lins e Wagner Cosse.
Wagner na beira do abismo e o fotógrafo (eu) tendo vertigem... |
Visão da cachoeira da parte de baixo (imagem copiada do escritório do parque nacional) |
Vale do Capão
Palmeiras
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