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No parque da Mitad del Mundo (foto de Wagner Cosse) |
Fotos de Thelmo Lins
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Há muitos
passeios disponíveis nas proximidades de Quito, capital do Equador, onde estive
entre o final de abril e o início de maio de 2023. Num raio de aproximadamente
200 km, visitamos (eu e meu companheiro de viagem, Wagner Cosse), nesta ordem,
Quilotoa (165 km), Otavalo (90km) e Mitad del Mundo (26km). Para tal,
contratamos guias locais que cobram taxas que vão de 25 a 150 dólares por
pessoa, com direito a uma boa pechincha. Estes valores podem ser reduzidos
quando se contrata o passeio em grupo, mas o risco é de um bate-volta rápido,
sem direito a vivenciar alguns detalhes que transformam as jornadas. No nosso
caso, os guias (motorizados) estavam por nossa conta e pararam em todos os
lugares que pedimos.
Vou
descrever um pouco de cada experiência.
Quilotoa
Começando
por Quilotoa. Trata-se de, talvez, uma das mais belas paisagens que vi em minha
vida. É um vulcão extinto, cujo lago emergiu de sua cratera (ou caldeira, que
seria a expressão mais correta), após uma explosão 200 mil anos atrás. As águas
formaram um lago de aproximadamente três quilômetros de largura e uma profundidade
que pode atingir (segundo alguns estudos) 380 m. Para deslumbre dos visitantes,
as águas podem adquirir cores que vão do azul ao verde profundo, de acordo com
a incidência do sol.
O parque
onde atração se situa é protegido pelo governo equatoriano, mas preservada
pelos povos originários proprietários daquelas terras. Atualmente, há várias
lojas, restaurantes e pousadas para atendimento aos turistas e viajantes. Quase
todos com uma arquitetura bastante característica.
O lago pode ser visto de vários
mirantes, inclusive um que está a 3.900 m de altitude. É também possível
caminhar até a sua borda, por uma trilha de cerca de dois quilômetros. Não
pense que é fácil. O fato de situar-se acima de 3.000 m complica o passeio,
pois gasta-se em média uma hora e meia para descer e três horas para subir. Wagner
se animou a enfrentar esse desafio, mesmo com o tempo chuvoso e frio. Eu
preferi admirar o vulcão do alto, pois minha respiração ficou um pouco afetada
pela elevação. Lá embaixo é possível fazer um passeio de barco e até mesmo
nadar em uma determinada faixa de água. E, para os menos preparados
fisicamente, a trilha pode ser feita a cavalo ou burro.
Tivemos muita sorte de apreciar
o lago em sua plenitude, mesmo em um dia de céu nublado. Nosso guia contou-se
que muitos visitantes se frustram quando chegam ao local e ele está coberto de
neblina. Nesta época do ano, chove muito no país, provocando névoas que embaçam
a visão.
No caminho para Quilotoa vimos
paisagens espetaculares da zona rural do Equador, com suas plantações todas
recortadas, em cores variadas, ao sopé das montanhas. Para completar o visual
idílico, muitos rebanhos, principalmente de ovelhas. A nota triste é a
quantidade de cachorros abandonados nas estradas, à espera de quem os alimente.
Por isso, ao notarmos a situação, compramos ração e, à medida do possível,
parávamos para proporcionar a esses animaizinhos um pouco de alegria.
Por fim, há o Cânion do Rio
Toachi, cuja profundidade pode atingir 100 m. No local há uma parada, com
direito a mirante, café e até mesmo uma alpaca para ver e fotografar. Tudo
mediante a gorjeta de 10 dólares. A adrenalina fica por conta de um balanço
colocado bem à beira do abismo, que pode ser experimentado pelos mais
corajosos. A sensação é de que vamos ser lançados a qualquer momento no fundo
daquele despenhadeiro. Aliás, encontramos outros balanços assim em pontos
distintos da viagem. O mais famoso fica em Baños, que falarei posteriormente.
Há também românticos locais para fotografar, com enfeites de corações,
bandeiras e colibris.
Otavalo
A cidade de Otavalo, com cerca
de 40 mil habitantes, denominada “Capital Intercultural do Equador”, tem a que
é considerada a maior feira de artesanato indígena da América do Sul. Grande
parte do comércio é voltada para área têxtil, mas há também espaço para o
famoso chapéu conhecido como “Panamá”, apesar de ser uma criação do Equador
(falarei em outra postagem sobre o assunto). O centro nevrálgico é a Praça dos
Ponchos, onde se concentram centenas de barracas (de acordo com algumas
informações, o número pode chegar a mais de mil).
A artesania baseia-se em
roupas, artigos de cama e mesa, enfeites, dentre outros, feitos de lã de
alpaca, lhama, vicunha e ovelha. São tecidos profusamente coloridos, com
estampas de diversos modelos e desenhos. É um festival de cores, belíssimo de
ser apreciado.
Estivemos em Otavalo em uma
quarta-feira. O dia principal da feira é sábado. Infelizmente, para nossa
decepção, a visita foi encurtada devido a uma chuva que desabou justamente
quando chegamos à cidade. Os vendedores foram logo recolhendo suas barracas para
proteger seus produtos. E, mesmo tendo ainda muitas opções para visitar, o
aguaceiro tirou um pouco a graça circundar na área.
Em Otavalo há outras atrações,
dentre elas uma belíssima cachoeira localizada nos arredores da cidade. Mesmo
com o tempo ruim, nos arvoramos a fazer a caminhada, que teve aproximadamente
três quilômetros de ida e volta. Fizemos fotos em frente ao prédio do centro
cultural da cidade, que tem um belo painel.
É muito interessante observar a
força que os povos originários têm na região, sendo que muitos ainda preservam
a língua original, o “quíchua”. São tradições centenárias que vêm sendo
preservadas por várias gerações e que traduzem no jeito como vivem, se vestem e
comem.
Latitude Zero
Terminando o tour pelos
arredores de Quito, num terceiro dia visitamos o parque chamado de “Mitad del
Mundo”. Afinal, o país fica na latitude zero, divisora dos hemisférios. Conhecemos
três lugares denominados “metade do mundo”, embora o monumento de maior
visibilidade fica dentro de um parque com uma grande infraestrutura formada por
lojas, restaurantes, galeria de arte e até mesmo uma capela. No dia da nossa
visita, havia uma feira de vinis, com direito a apresentações artísticas.
Em todas as
visitas, recebemos informações técnicas e até científicas sobre o significado
da linha do Equador. De como isso provoca transformações em nosso metabolismo,
na posição das estrelas no céu e até mesmo no ritmo da água no ralo da pia. Em
um dos pontos, adquirimos uma publicação bastante pedagógica sobre o assunto,
com nomes dos cientistas que mapearam toda a região equatoriana para descobrir
o local mais adequado para a divisão dos hemisférios. Nesse local, ainda
pudemos apreciar um fantástico jardim de plantas típicas do Equador.
Em outra
área, além dos fatos históricos e científicos, havia jogos lúdicos como o
desafio de colocar um ovo cru em pé em cima de um prego. Quem vencesse o teste,
ganhava um diploma. Wagner e eu tivemos o prazer de concluir a tarefa, que
(diga-se de passagem) não é nada fácil.
Por fim, no
parque principal, reconhecido com uma das maiores atrações turísticas do
Equador, a brincadeira era tirar fotos em cima da faixa amarela, que
representava a linha do Equador. Colocar, por exemplo, um pé do hemisfério
norte e outro no hemisfério sul, assim por diante. O guia Marco, que nos levou a esses lugares tão preciosos,
nos deu uma aula de geografia, de história, de culinária e até das questões
políticas do país, enobrecendo a visita.
É bom
relatar que, além dos sítios principais das visitas, pudemos conhecer outras
tantas atrações pelo caminho, que confirmavam o encantamento provocado pelo
Equador, por meio de seu povo, suas montanhas, sua arte e artesanias.
Vale ressaltar,
por fim, que a sede da União de Nações Sul-Americanas (Unasur ou Unasul) fica
próxima à região da Mitad del Mundo em um belo edifício de arquitetura arrojada.
A Unasul foi fundada em maio de 2008, com o objetivo de buscar a integração
sul-americana, reunindo o Mercado Comum do Sul (Mercosul) e a Comunidade Andina
(CAN). Ao todo, os países participantes integram quase 400 milhões de habitantes.
Em 2019, por um ato intempestivo, o ex-presidente Jair Bolsonaro retirou o
Brasil do bloco. Com a chegada do presidente Lula ao poder, em 2023, o país
retomou seu assento na Unasul e ainda participou de uma reunião realizada logo
no início do ano, em Buenos Aires, na Argentina, para reativar os trabalhos e
reconduzir a entidade aos seus princípios fundamentais.
Nossa
postagem termina aqui. Voltaremos com o nosso passeio a Baños, uma cidade onde
a natureza comanda o turismo. Até lá!
Vulcão e Lago Quilotoa