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Thelmo Lins e a igreja de Nossa Senhora da Piedade (foto de Wagner Cosse) |
Fotos de Thelmo Lins
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Volta e meia são debatidas questões envolvendo
o conceito de mineiridade, do fato de Minas Gerais, minha terra natal (nasci em
Itabirito, mas vivo em Belo Horizonte) ser um pouco a síntese do Brasil. Isso
deve-se ao fato, principalmente, de que o estado, por não ter acesso ao mar, é
circundado por outros estados do nordeste, centro oeste e sudeste do país,
criando assim um painel da nacionalidade brasileira. E também porque, em Minas,
consolidou-se a ocupação urbana, desde a época do ouro.
Na área central do estado, numa
circunferência de aproximadamente 150 quilômetros da capital mineira, é onde
esta mineiridade aflora de maneira mais forte. Mesmo sendo lugares às vezes
muito conhecidos dos próprios mineiros, nem sempre suas atrações são apreciadas
de forma mais plena.
Recentemente visitei três desses
lugares que ajudam a compreender o que Minas tem de melhor, passando por sua
religiosidade, natureza, história e gastronomia: Serra de Piedade, Santa
Bárbara e Catas Altas. É possível fazer todo o circuito em um dia apenas, mas
optei por fazer em dois, para usufruir melhor de cada localidade.
Começaremos pela Serra da Piedade,
onde está localizado o santuário administrado pela Arquidiocese de Belo
Horizonte. É, portanto, alvo de intensa peregrinação religiosa, ressaltado o
fato de que Nossa Senhora da Piedade é a padroeira de Minas Gerais. São apenas
51 km de Belo Horizonte, pela imprevisível rodovia 381, que liga a capital
mineira a Vitória. Ela ganhou o trágico apelido de Rodovia de Morte por ser uma
das mais perigosas do país. Em julho de 2017, quando visitei o santuário, a
estrada estava em obras (eternas, diga-se de passagem) de duplicação. Se tudo
estiver bem, chega-se ao local em apenas uma hora. A serra situa-se no
município de Caeté.
Não escolhemos (eu e meu companheiro
de viagem, Wagner Cosse) um dia muito bom para visitar o local. Era domingo,
dia de maior movimento. Por isso, é obrigatório deixar o automóvel no
estacionamento a cerca de 2,5 km das principais atrações, numa subida
relativamente suave. Para aqueles que não aguentam caminhar tanto (cinco
quilômetros ida e volta), existe uma van que faz o trajeto. Optamos por ir a
pé. Como o tempo estava frio, com muitos ventos, não sentimos tanto o peso do
sol em nossas cabeças.
O visual da Serra da Piedade é
deslumbrante, a 1.800 m de altitude. Dali avistam-se várias cidades, inclusive
a capital mineira. No local, além da igreja principal, uma construção barroca,
há restaurante, lanchonete, loja, uma igreja mais moderna e até um observatório
astronômico.
Além do visual fantástico, outra
atração é o excelente estado de conservação de todos os equipamentos, inclusive
das praças e trilhas. Mesmo com a massiva visitação, o local se mantém limpo e
organizado. Com um bônus extra, ainda podemos conferir a belíssima imagem de
Nossa Senhora da Piedade, na igreja velha, atribuída ao Mestre Aleijadinho.
Existe um queijo famoso produzido
pelos religiosos que vivem no local. É um queijo daqueles com aspecto estranho,
com a casca grossa e rugosa, mas o sabor compensa o visual.
A única crítica que eu faria ao
local é em relação ao restaurante. A comida não é boa e as filas que se formam
nos dias de grande afluxo de visitantes são grandes e, portanto, demoradas. Se
houver algum investimento, sugiro que seja feita na reforma do local, com uma
culinária mais atraente.
É possível também hospedar-se na
serra, embora eu não tenha vivido essa experiência, até mesmo para aproveitar o
observatório, que ainda não tive a oportunidade de conhecer.
Em resumo, uma visita
agradabilíssima, a baixo custo. Para os católicos, um grande ritual de fé, com
missas que acontecem em horas específicas. Bom também para os caminhantes e
admiradores das montanhas mineiras.
O conselho é que a visita aconteça
durante a semana, quando o trânsito é mais agradável e não há tantos
visitantes.
Santa
Bárbara e Catas Altas
As próximas paradas do circuito são
Santa Bárbara e Catas Altas, duas cidades que eu estou revisitando. Elas ficam a aproximadamente de 100 a 120km
de Belo Horizonte. O trajeto sugerido é seguir pela mesma BR-381. Para quem sai
da capital mineira, há um trevo sinalizado à direita, de onde se têm acesso aos
municípios.
A primeira visitada foi Santa
Bárbara, terra do ex-presidente Afonso Pena. O pequeno, mas charmoso, centro
histórico é a principal atração da cidade. Ali estão igrejas, museus, o casario
antigo, a estação ferroviária, o hotel Quadrado e a Matriz de Santo Antônio.
Esta, uma joia da arquitetura do século 18, transição entre o Barroco e o
Rococó mineiros. A impressionante igreja tem um pouco de tudo que deslumbra dos
visitantes: douramento nos altares, pintura do Mestre Athayde, obras atribuídas
ao Aleijadinho e uma incrível porta com inspiração marroquina, que dá acesso à
capela do Santíssimo. A matriz foi restaurada há poucos anos e está em ótimo
estado de conservação. O guia José Geraldo emprestou seu talento e gentileza
para nos explicar detalhes da decoração.
Perto da estação ferroviária,
funciona um anexo do Hotel Quadrado, o Quadradinho, que tem um agradável
restaurante. Experimentei, com os amigos que viajam comigo, o saboroso Bacalhau
à Santa Bárbara.
Passado o almoço e a sessão de
fotos, rumamos para Catas Altas, a 10 minutos de carro, em estrada asfaltada. A
primeira visão que temos é da belíssima serra do Caraça. O antigo colégio, que
virou parque e atração turística, fica no município de Catas Altas. Desta vez,
não o visitei, mas vale a pena conhecê-lo por suas belezas arquitetônicas e
naturais.
Conheço Catas Altas há muitos e
muitos anos, desde quando havia pouca opção de hospedagem e alimentação.
Atualmente, é um município constituído (já foi um distrito de Santa Bárbara).
Desde a primeira vez, assombro-me com a beleza de suas montanhas e de alguns
monumentos históricos, como a Igreja de Nossa Senhora da Conceição, a principal
do lugar. Por ter sua construção interrompida várias vezes, ela virou uma
espécie de mostruário da arquitetura mineira dos séculos 18 e 19, com suas
diversas fases. Os anjos tocheiros me chamam a atenção, assim como os altares
laterais, dois deles com forte influência chinesa (as famosas chinesices). Pude
fotografar o interior da igreja graças à colaboração da paróquia. Normalmente é
proibido fazer registros.
A praça principal também é muito
acolhedora, embora no início de agosto de 2017, fora da temporada de férias,
pouca coisa estava funcionando na cidade. Existe um bom restaurante, que já
tive a oportunidade de conhecer em outra visita (o Histórias da Taberna) e
muitas opções de pousadas e hospedagem.
O largo da igreja de Santa Quitéria é outro local muito apreciado.
Vale a pena também experimentar os
vinhos e licores produzidos em Catas Altas, principalmente o licor de
jabuticaba. Quanto ao vinho, existe até uma festa exclusiva para ele, em maio.
A noite chegava e optamos por voltar
por Mariana e Ouro Preto, ao invés de retornar pela mesma estrada da vinda.
Nessa estrada temos acesso às barragens da Samarco que vitimaram tantas pessoas
no passado e que destruíram o distrito de Bento Rodrigues.
Antes de chegarmos em Belo
Horizonte, nos detivemos por algum tempo no centro histórico de Mariana. Estava
com saudades do bambá de couve, um caldo de fubá com couve e linguiça, muito
tradicional na cidade. Havia um muito saboroso no Restaurante Rancho, na praça
Gomes Freire. Aproveitamos ainda para passear pelas principais ruas daquela
área. Com certeza, a Praça Minas Gerais, onde ficam a Câmara Municipal e dois templos
católicos, é uma das mais belas do estado.
É hora de voltar para casa, depois
de um dia cheio de atividades. Um passeio de baixo custo e grande afetividade. Momentos
para se aconchegar com a nossa mineiridade.
Até a nossa próxima jornada!
Serra da Piedade
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Vista de Caeté |
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Torres da igreja velha |
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Fachada da igreja nova |
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Wagner e as montanhas |
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Caminhada de 2,5km |
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Caminhada |
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Imagem de N.Sra. da Piedade (atribuída a Aleijadinho) |
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Imagem da igreja |
Santa Bárbara
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Matriz de Santo Antônio |
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Porta de inspiração marroquina |
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Os amigos Regina, Conceição e Vinícius e o guia José Geraldo |
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Lustre de prata |
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Quadradinho |
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Estação ferroviária |
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Igreja do Rosário |
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Interior da igreja do Rosário |
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Museu em homenagem a Afonso Pena |
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Túmulo de Afonso Pena |
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Vista do centro histórico |
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Bacalhau à Santa Bárbara |
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Museu Antoniano |
Catas Altas
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Matriz de N.Sra. da Conceição |
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Interior da matriz: história da arquitetura religiosa mineira |
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Montanhas |
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Praça da matriz |
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Igreja de Santa Quitéria |
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O garoto Brian |
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