quinta-feira, 10 de agosto de 2017

Todo o esplendor da mineiridade na Serra da Piedade, Santa Bárbara e Catas Altas

Thelmo Lins e a igreja de Nossa Senhora da Piedade (foto de Wagner Cosse)

Fotos de Thelmo Lins


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            Volta e meia são debatidas questões envolvendo o conceito de mineiridade, do fato de Minas Gerais, minha terra natal (nasci em Itabirito, mas vivo em Belo Horizonte) ser um pouco a síntese do Brasil. Isso deve-se ao fato, principalmente, de que o estado, por não ter acesso ao mar, é circundado por outros estados do nordeste, centro oeste e sudeste do país, criando assim um painel da nacionalidade brasileira. E também porque, em Minas, consolidou-se a ocupação urbana, desde a época do ouro.
            Na área central do estado, numa circunferência de aproximadamente 150 quilômetros da capital mineira, é onde esta mineiridade aflora de maneira mais forte. Mesmo sendo lugares às vezes muito conhecidos dos próprios mineiros, nem sempre suas atrações são apreciadas de forma mais plena.
            Recentemente visitei três desses lugares que ajudam a compreender o que Minas tem de melhor, passando por sua religiosidade, natureza, história e gastronomia: Serra de Piedade, Santa Bárbara e Catas Altas. É possível fazer todo o circuito em um dia apenas, mas optei por fazer em dois, para usufruir melhor de cada localidade.
           
            Começaremos pela Serra da Piedade, onde está localizado o santuário administrado pela Arquidiocese de Belo Horizonte. É, portanto, alvo de intensa peregrinação religiosa, ressaltado o fato de que Nossa Senhora da Piedade é a padroeira de Minas Gerais. São apenas 51 km de Belo Horizonte, pela imprevisível rodovia 381, que liga a capital mineira a Vitória. Ela ganhou o trágico apelido de Rodovia de Morte por ser uma das mais perigosas do país. Em julho de 2017, quando visitei o santuário, a estrada estava em obras (eternas, diga-se de passagem) de duplicação. Se tudo estiver bem, chega-se ao local em apenas uma hora. A serra situa-se no município de Caeté.
            Não escolhemos (eu e meu companheiro de viagem, Wagner Cosse) um dia muito bom para visitar o local. Era domingo, dia de maior movimento. Por isso, é obrigatório deixar o automóvel no estacionamento a cerca de 2,5 km das principais atrações, numa subida relativamente suave. Para aqueles que não aguentam caminhar tanto (cinco quilômetros ida e volta), existe uma van que faz o trajeto. Optamos por ir a pé. Como o tempo estava frio, com muitos ventos, não sentimos tanto o peso do sol em nossas cabeças.
            O visual da Serra da Piedade é deslumbrante, a 1.800 m de altitude. Dali avistam-se várias cidades, inclusive a capital mineira. No local, além da igreja principal, uma construção barroca, há restaurante, lanchonete, loja, uma igreja mais moderna e até um observatório astronômico.
            Além do visual fantástico, outra atração é o excelente estado de conservação de todos os equipamentos, inclusive das praças e trilhas. Mesmo com a massiva visitação, o local se mantém limpo e organizado. Com um bônus extra, ainda podemos conferir a belíssima imagem de Nossa Senhora da Piedade, na igreja velha, atribuída ao Mestre Aleijadinho.
            Existe um queijo famoso produzido pelos religiosos que vivem no local. É um queijo daqueles com aspecto estranho, com a casca grossa e rugosa, mas o sabor compensa o visual.
            A única crítica que eu faria ao local é em relação ao restaurante. A comida não é boa e as filas que se formam nos dias de grande afluxo de visitantes são grandes e, portanto, demoradas. Se houver algum investimento, sugiro que seja feita na reforma do local, com uma culinária mais atraente.
            É possível também hospedar-se na serra, embora eu não tenha vivido essa experiência, até mesmo para aproveitar o observatório, que ainda não tive a oportunidade de conhecer.
            Em resumo, uma visita agradabilíssima, a baixo custo. Para os católicos, um grande ritual de fé, com missas que acontecem em horas específicas. Bom também para os caminhantes e admiradores das montanhas mineiras.
            O conselho é que a visita aconteça durante a semana, quando o trânsito é mais agradável e não há tantos visitantes.

Santa Bárbara e Catas Altas

            As próximas paradas do circuito são Santa Bárbara e Catas Altas, duas cidades que eu estou revisitando.   Elas ficam a aproximadamente de 100 a 120km de Belo Horizonte. O trajeto sugerido é seguir pela mesma BR-381. Para quem sai da capital mineira, há um trevo sinalizado à direita, de onde se têm acesso aos municípios.
            A primeira visitada foi Santa Bárbara, terra do ex-presidente Afonso Pena. O pequeno, mas charmoso, centro histórico é a principal atração da cidade. Ali estão igrejas, museus, o casario antigo, a estação ferroviária, o hotel Quadrado e a Matriz de Santo Antônio. Esta, uma joia da arquitetura do século 18, transição entre o Barroco e o Rococó mineiros. A impressionante igreja tem um pouco de tudo que deslumbra dos visitantes: douramento nos altares, pintura do Mestre Athayde, obras atribuídas ao Aleijadinho e uma incrível porta com inspiração marroquina, que dá acesso à capela do Santíssimo. A matriz foi restaurada há poucos anos e está em ótimo estado de conservação. O guia José Geraldo emprestou seu talento e gentileza para nos explicar detalhes da decoração.
            Perto da estação ferroviária, funciona um anexo do Hotel Quadrado, o Quadradinho, que tem um agradável restaurante. Experimentei, com os amigos que viajam comigo, o saboroso Bacalhau à Santa Bárbara.
            Passado o almoço e a sessão de fotos, rumamos para Catas Altas, a 10 minutos de carro, em estrada asfaltada. A primeira visão que temos é da belíssima serra do Caraça. O antigo colégio, que virou parque e atração turística, fica no município de Catas Altas. Desta vez, não o visitei, mas vale a pena conhecê-lo por suas belezas arquitetônicas e naturais.
            Conheço Catas Altas há muitos e muitos anos, desde quando havia pouca opção de hospedagem e alimentação. Atualmente, é um município constituído (já foi um distrito de Santa Bárbara). Desde a primeira vez, assombro-me com a beleza de suas montanhas e de alguns monumentos históricos, como a Igreja de Nossa Senhora da Conceição, a principal do lugar. Por ter sua construção interrompida várias vezes, ela virou uma espécie de mostruário da arquitetura mineira dos séculos 18 e 19, com suas diversas fases. Os anjos tocheiros me chamam a atenção, assim como os altares laterais, dois deles com forte influência chinesa (as famosas chinesices). Pude fotografar o interior da igreja graças à colaboração da paróquia. Normalmente é proibido fazer registros.
            A praça principal também é muito acolhedora, embora no início de agosto de 2017, fora da temporada de férias, pouca coisa estava funcionando na cidade. Existe um bom restaurante, que já tive a oportunidade de conhecer em outra visita (o Histórias da Taberna) e muitas opções de pousadas e hospedagem.  O largo da igreja de Santa Quitéria é outro local muito apreciado.
            Vale a pena também experimentar os vinhos e licores produzidos em Catas Altas, principalmente o licor de jabuticaba. Quanto ao vinho, existe até uma festa exclusiva para ele, em maio.

            A noite chegava e optamos por voltar por Mariana e Ouro Preto, ao invés de retornar pela mesma estrada da vinda. Nessa estrada temos acesso às barragens da Samarco que vitimaram tantas pessoas no passado e que destruíram o distrito de Bento Rodrigues.
            Antes de chegarmos em Belo Horizonte, nos detivemos por algum tempo no centro histórico de Mariana. Estava com saudades do bambá de couve, um caldo de fubá com couve e linguiça, muito tradicional na cidade. Havia um muito saboroso no Restaurante Rancho, na praça Gomes Freire. Aproveitamos ainda para passear pelas principais ruas daquela área. Com certeza, a Praça Minas Gerais, onde ficam a Câmara Municipal e dois templos católicos, é uma das mais belas do estado.
            É hora de voltar para casa, depois de um dia cheio de atividades. Um passeio de baixo custo e grande afetividade. Momentos para se aconchegar com a nossa mineiridade.
            Até a nossa próxima jornada!

Serra da Piedade




Vista de Caeté



Torres da igreja velha



Fachada da igreja nova

Wagner e as montanhas

Caminhada de 2,5km

Caminhada



Imagem de N.Sra. da Piedade (atribuída a Aleijadinho)


Imagem da igreja

Santa Bárbara

Matriz de Santo Antônio







Porta de inspiração marroquina






Os amigos Regina, Conceição e Vinícius e o guia José Geraldo

Lustre de prata

Quadradinho

Estação ferroviária


Igreja do Rosário

Interior da igreja do Rosário




Museu em homenagem a Afonso Pena

Túmulo de Afonso Pena



Vista do centro histórico

Bacalhau à Santa Bárbara


Museu Antoniano

Catas Altas


Matriz de N.Sra. da Conceição

Interior da matriz: história da arquitetura religiosa mineira








Montanhas



Praça da matriz





Igreja de Santa Quitéria



O garoto Brian





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