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No Mirante de San Cristóbal, com uma bela vista do centro histórico de Cusco (foto de Wagner Cosse) |
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Amanhecemos em Cusco. Nosso hotel
estava bem localizado, a menos de um quilômetro da Praça de Armas, a
principal da cidade, o que nos facilitou conhecer os principais atrativos. Nesta
praça pulsa a vida do local, com restaurantes, lojas, cafés e alguns dos seus
principais monumentos, como a catedral metropolitana e a Igreja da Companhia de
Jesus.
A antiga capital do império
inca tem uma população atual de aproximadamente 500 mil habitantes. É uma
cidade cosmopolita, com um impressionante turismo internacional. Está situada a
3.400 metros acima do nível do mar. Por isso, algumas pessoas que chegam ao
Peru e desembarcam diretamente na cidade sentem o “mal da altitude”, que é a
sensação de falta de ar. Nosso hotel (como outros tantos da cidade) mantém uma
mesinha, com o chá de coca e o chá de muña, para combater ou amenizar este
desconforto. Como nós (Regina, Wagner e eu) estávamos viajando há vários dias
pelo Peru e já havíamos enfrentado altitudes maiores, a sensação foi
minimizada.
Algumas curiosidades a respeito
de Cusco:
1)
O nome é proveniente da palavra quéchua Qusqu ou
Qosqo, cujo significado é “centro” ou “umbigo”, devido à sua localização
elevada e por centralizar uma extensa rede de caminhos que conectavam todos os
países que faziam parte do Tahuantinsuyo ou Império Inca.
2)
Segundo o site “Peru Travel”, alguns
“historiadores afirmam que o traçado urbano da antiga cidade de Cusco foi feito
no formato de um puma. De acordo com a cultura inca, este animal,
juntamente com o condor e a serpente, constituía uma trindade sagrada em
homenagem ao céu, à terra e ao mundo dos mortos, respectivamente. Embora
atualmente seja quase impossível observar isso devido à crescente urbanização
da cidade, acredita-se que a cabeça do puma fica na fortaleza de Sacsayhuamán;
o coração, na Plaza de Armas, e a cauda no majestoso Templo del Coricancha.”
3)
A bandeira do município lembra muito a do
movimento lgbtqiapn+. No
entanto, ela é anterior ao movimento, pois foi criada em 1973. Ao centro do
“arco-íris”, existe o emblema do Império Inca.
Existe um documento, denominado Boleto
Turístico del Cusco, que funciona como um passaporte para visitar a cidade
e a região. Com o custo de 130 soles (setembro de 2024), é possível conhecer 16
atrações turísticas, dentre os principais sítios arqueológicos, museus e
monumentos históricos. Ele tem a validade de 10 dias.
O que vou narrar a seguir
aconteceu em dois dias em que estivemos na cidade. Um sob a organização de uma
agência local e outro por nossa conta.
Tínhamos um percurso a cumprir
pelo Vale Sagrado dos Incas e o primeiro local a ser visitado foi Sacsayhuaman, sítio arqueológico localizado a dois
quilômetros de Cusco. A “cabeça” do puma é um dos mistérios incas, pois
impressiona o formato de zigue-zague das muralhas e o encaixe perfeito das
rochas, algumas delas com cinco metros de altura e 350 toneladas! Nada foi
usado para dar liga às pedras, além da lapidação humana. Dizem alguns
estudiosos que foram necessários 20 mil operários para construí-la.
Outros acreditam que Sacsayhuaman
pudesse ter sido uma fortaleza militar, o que é contestado por alguns arqueólogos.
Há uma série na plataforma Netflix, denominada “Revelações Pré-Históricas – As
Américas”, estrelada pelo escritor e jornalista britânico Grahan Handock, cujo
episódio 03 da segunda temporada aborda os mistérios desse monumento, com novas
revelações. Vale a pena conferir, pois os mistérios continuam a provocar
espanto nos pesquisadores.
A segunda etapa de nosso tour foi
Q'enqo, seis quilômetros de Cusco. Este nome foi dado pelos espanhóis,
que não sabiam a denominação original dos incas. Na língua quéchua quer dizer
“labirinto”. Ali poderia ter sido um local de sacrifícios durante as cerimônias
em honra do sol, da lua e das estrelas. Existe um altar e canais esculpidos nas
rochas, que sugerem ter sido um santuário ou um anfiteatro criado para eventos
ligados a atos religiosos.
Puka Pukara e a Tambomachay foram as
próximas visitas. O primeiro significa “forte vermelho”, em quéchua. Poderia
ter sido uma parada para descanso ou um forte militar, não se sabe ao certo.
Ali existem praças, salas, mirantes e aquedutos. Já Tambomachay é definido como
um local para enaltecer a divindade da água, devido aos seus nichos e suas fontes
naturais.
Todos esses locais demonstram a
excelência dos incas no tratamento de suas construções em pedra, no calçamento
de suas estradas e em seu tino arquitetônico. Os posicionamentos dos templos
não são aleatórios. Eles têm sentidos sagrados, de acordo com os rituais que
eles respeitavam e seguiam.
Retornando ao
núcleo urbano de Cusco, conhecemos o mirante da Praça de San Cristóbal,
de onde se pode apreciar uma bela vista do centro histórico da cidade.
Estivemos lá no dia 14 de setembro e pudemos observar uma procissão dedicada a Jesus
Crucificado. No Brasil, nesta mesma data, é comemorado o dia do Bom Jesus do
Matosinhos, cuja principal manifestação acontece no santuário de Congonhas,
Minas Gerais. Minha terra natal, Itabirito (MG), tem uma capela barroca com
esta nomenclatura, com pinturas de rara beleza.
Dali fomos ao
Mercado de San Pedro, o principal da cidade. Local para comprar produtos
da gastronomia local, como café, chocolate, quinua, maca negra, chicha morada,
chás de coca e muña, alimentos diversos, sucos, artesanatos, roupas, dentre
outros. A arquitetura foi assinada por Gustavo Eiffel, o mesmo que criou
a icônica torre parisiense.
Em frente ao
mercado, na época de nossa viagem, acontecia a feira do livro, com muitas
livrarias e editoras representativas do país, inclusive muitos sebos.
O mosteiro
e convento de Santo Domingo, na sequência, foi construído em cima do Templo
de Coricancha (que, em quéchua, quer dizer “recinto de ouro”). As antigas
fundações ainda estão preservadas, de onde se pode notar mais uma vez a
engenhosidade dos incas na construção de seus edifícios. Podemos observar como
as pedras eram encaixadas e como as paredes eram feitas com alguma inclinação,
para driblar os terremotos comuns na região. Muitas das edificações incas
sobreviveram aos abalos sísmicos, enquanto as obras dos colonizadores tiveram
que ser reconstruídas várias vezes.
Construir os
templos e edifícios em cima das estrutura incas foi a forma dos colonizadores
demonstrarem a sua dominação, como aconteceu também no México, em relação
aos astecas, maias e outros povos originários.
Coricancha
era um local sagrado, onde se faziam oferendas ao deus Sol. Ali só podiam
ingressar o imperador, o sacerdote e as virgens autorizadas para participar dos
rituais. Contam que suas paredes eram cobertas lâminas de ouro sólido e os
pátios eram decorados por estátuas douradas. Estes tesouros foram saqueados
pelos espanhóis, durante a conquista do império inca.
Do mosteiro,
podemos apreciar os belos jardins, as sacadas e os corredores cobertos de telas
de pintores europeus. A igreja exibe um belíssimo altar coberto de ouro.
Cusco é tombada
como Patrimônio da Humanidade pela Unesco desde 1983. Seu centro
histórico é marcado por importantes edifícios coloniais, cujas varandas de
madeira são algumas de suas características mais marcantes.
Dentre os
atrativos, vale ressaltar o Museu Inka, que ocupa a residência do
corregedor Francisco Aldrete Maldonado (?-1643), apelidado de Almirante, que
foi construída no século XVII. O acervo é composto por vasos cerimoniais,
tecidos, múmias e ídolos em ouro maciço e prata, armas, ferramentas e cerâmicas
incas. O local abriga uma detalhada maquete de Machu Picchu, ladeada por
fotos de sua descoberta, no início do século XX.
Apesar do
nome, o museu deixou a desejar, principalmente porque o prédio e parte de seu
acervo não está bem conservado. Recentemente, no
Brasil, o Centro Cultural do Banco do Brasil (CCBB) realizou uma exposição
dedicada aos tesouros ancestrais do Peru, com peças muito mais suntuosas e
belas do que vimos nesse espaço.
O Museu
Histórico Regional, que é mais bem elaborado e organizado, traz muitas
obras de arte e objetos do período colonial e pré-colonial. Na visita que
fizemos, destaco a exposição temporária “El arte de burilar los mates”, do
artista plástico Angel Alfaro Nuñes, que utiliza cabaças para criar peças
maravilhosas, com pinturas e desenhos super detalhados. Um trabalho fenomenal!
No pátio
principal da Escola de Belas Artes existem alguns murais, telas e
esculturas bem interessantes, demonstrando a criatividade dos artistas locais.
Há uma grande
tradição cusquenha em relação às artes plásticas, proveniente do período
colonial. Artistas locais, a maioria anônimos, criaram obras encantadoras, com
um estilo bastante peculiar. Alguns pintores e escultores espanhóis e
italianos, como Francisco de Zurbarán e Bernardo Bitti, serviram
de inspiração para o surgimento de vários talentos locais, como Diego Quispe
Tito (1611-1681) e Marcos Zapata (1710-1773), que pintou a célebre “Última
Ceia”, exposta na catedral de Cusco.
A inspiração
surgiu, inicialmente, de obras renascentistas trazidas da Europa. Mas,
com o tempo, os artistas locais foram desenvolvendo uma técnica e estilo
específicos, criando uma escola bastante distinta e que, atualmente, é muito
valorizada nos principais leilões de arte internacionais. Cenas mostrando a
Sagrada Família, anjos e santos eram elaboradas com o requinte de roupas
extravagantes, à moda europeia, com douramentos e joias, distante das figuras
tradicionalmente humildes descritas na Bíblia.
Outras obras
mostram cenas da vida cotidiana, muitas delas retratando a realidade dos povos
locais, submetidos aos atos religiosos católicos ou às violências impostas
pelos colonizadores. Há, ainda, interessantes retratos de líderes incas e
personagens da realeza dos povos originários.
Conhecemos,
também, o bairro de San Blas, um conjunto de pequenas ruas com casas
coloniais coloridas, em cima de muros incas. São construções pintadas de
branco, decoradas com floreiras. A maioria delas é ocupada por ateliês de
artesãos e artistas plásticos cusquenhos.
Caminhando em
direção à praça principal, está a pedra de 12 ângulos, incrustrada em um
muro inca, famosa pelo seu encaixe perfeito. O local é uma das principais
atrações da cidade.
Na rua há
também muitas joalherias. Cusco é famosa pela lapidação de joias, em
especial aquelas feitas em prata e pedras preciosas. Há criações para todos os
gostos e bolsos.
A visita
termina na principal construção de Cusco, a catedral. Infelizmente, por
motivos de direitos autorais, são proibidas as fotos no local. Mas, basta uma
busca no Google para observar a riqueza e a suntuosidade do interior da
edificação.
O altar
principal, criado em entre 1792 e 1802, foi elaborado com aproximadamente 400
kg de prata boliviana. O coro, datado do século XVII, foi todo esculpido em
cedro. Em um dos altares, está a imagem do Cristo “El Negrito”, chamado de “El
Señor de los Temblores”, por sua fama milagrosa de acalmar os terremotos. Sua
tonalidade escura é creditada à fumaça das velas. Por fim, a famosa “Última
Ceia”, já citada neste texto, que coloca Cristo e os discípulos em volta de uma
mesa tipicamente peruana, servindo o porquinho-da-índia, ao invés do cordeiro; e
tomando cerveja de milho, ao invés do vinho, em taças incas.
Neste dia,
foi crucial a presença do guia Rossel, um dos mais bem informados da
nossa viagem, que nos deu uma aula completa sobre a história da cidade.
Tivemos, inclusive, a oportunidade de conversar com ele em particular, à parte
do grupo, quando pudemos extrair um pouco mais de seu amplo conhecimento.
Cusco merecia
alguns dias a mais na viagem, principalmente para conhecermos mais
profundamente os restaurantes estrelados, os seus deliciosos cafés e lojas. No
entanto, era hora de prosseguir na viagem, rumo a novos sítios do Vale Sagrado.
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O mapa original de Cusco tinha o formato de um |
Centro Histórico
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Igreja da Companhia de Jesus |
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Catedral |
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Varandas de madeira |
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Arco de Santa Clara |
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Praça das Armas |
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Desfile de estudantes |
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Ensaio de casamento na praça |
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Boleto Turístico |
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Vista de Cusco a partir do sítio |
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Muralhas com pedras de até 350 toneladas |
Q'enqo
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Mesa de rituais |
Puka Pukara
Tambomachay
Mirante de San Cristóbal
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Procissão |
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Wagner e mulheres com vestes típicas |
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Centro histórico a partir do mirante |
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Praça de Armas |
Mercado de San Pedro
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Com Wagner e Regina experimentando os deliciosos sucos |
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Feira do Livro |
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Bandeira de Cusco |
Mosteiro Santo Domingo e Templo
de Coricancha
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Artesãs locais |
Parabéns pela abordagem e belas fotos!
ResponderExcluirAgradecido. Grande abraço
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